domingo, 22 de maio de 2011

Poemas para Cursos e Seminários de Formação

Poemas: Classe, consciência, organização, luta
Subsídios para cursos de formação sindical
Helder Molina


O elogio da dialética
(Bertold Brecht)


A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".


O Sindicato
(de Bertold Brecht)


Mas quem é o sindicato?
Ele fica sentado em sua casa com telefone?
Seus pensamentos são secretos,
Suas decisões desconhecidas?
Quem é ele? Nós somos ele você, eu, vocês, nós todos.
Ele veste a sua roupa, companheiro,
E pensa como a sua cabeça
Onde moro é a casa dele,
E quando você é atacado ele luta
Mostre-nos o caminho que devemos seguir
E nós seguiremos com você.
Mas não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós, o mais errado
Não se afaste de nós!
Podemos errar e você ter razão.
Portanto, não se afaste de nós!
Que o caminho curto é melhor que o longo,
Ninguém nega. Mas quando alguém o conhece
E não é capaz de mostrá-lo a nós,
De que nos serve sua sabedoria?
Seja sábio conosco! Não se afaste de nós!


AOS QUE LUTAM COM O POVO
(Eça de Queiroz)

Há no mundo uma raça de homens, com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades no coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem.
Estes homens são o povo...
Estes homens estão sob o peso de calor e de sol, pelas chuvas, roídos de frio, descalços, mal nutridos. Lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, sua força,para plantar o trigo, fazer o pão, tornar a mesa farta.
Estes homens são o povo...
E são os que nos vestem...
Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma.
Fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o povo...
E são os que nos vestem...
Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras da natureza, respiram mal, comem pouco, sempre as vésperas da morte, rotos, curvados, extraem o metal, o minério, o cobre, o ouro, o ferro, e toda matéria prima das indústrias.
Estes homens são o povo...
E são os que nos enriquecem...
Nas lutas e crises tomam as velhas armas da pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, as intempéries, à neve, ao frio, nos calores pesados, combatem e morrem longe dos filhos e das mães, sem ventura, sem ternura, esquecidos, para que nós conservemos nosso descanso opulento.
Estes homens são o povo...
E são os que nos defendem...
Estes homens são os que formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal nutridos, restam-lhes Os quintais, as senzalas, as sobras, as migalhas.
E são os que nos servem...
E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz por estes homens
Que o veste? Que o alimenta? Que o enriquece? Que o defende?
E que o serve?
Primeiro despreza-os, não pensa neles, não vela por eles. Não os educa, não os instrui, trata-os como se tratam os bois, os porcos.
Deixa-lhes uma pequena sobra da porção de seus trabalhos dolorosos, não lhes melhora a sorte, cerca-os de dificuldades,
cria-lhes a desesperança, agonia-os, formam-lhes em redor uma servidão que os prende.
Não lhes dá proteção, amparo, e, terrível coisa! Não os retira da ignorância, deixa-lhes morrer a alma.
É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo povo. E ainda que não sejam escutados... terão na amizade dele... uma consolação suprema.


O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos
acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo
de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel,
do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro,
que se orgulha e estufa o peito,
dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política, nasce a
prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o
pior de todos os bandidos, que é o
político vigarista, pilantra, o corrupto e
lacaio das multinacionais.

Nenhum comentário: