terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FORMAÇÃO: CARGA HORÁRIA DOS CURSOS, FORMATOS E RECURSOS DIDÁTICOS

FORMAÇÃO: CARGA HORÁRIA DOS CURSOS, FORMATOS E RECURSOS DIDÁTICOS

• Carga horária:
Cada tema/curso, com mínimo de 12 horas/aulas, máximo de 36 horas/aulas

• Formato:
Em módulo único, ou em até 3 módulos.

• Recursos didáticos/metodológicos:
Diversas linguagens e ferramentas: Exposição em Power Point, aulas dialogadas, grupos de leituras e produções de conteúdos, dinâmicas coletivas de integração, exercícios práticos dos temas, simulações, dramatizações das situações, utilização de vídeos (documentários, filmes curtos) para ilustração e debate dos temas, pesquisas e atividades intermódulos, ou aprofundamento teórico-prático, utilização de poesias, músicas e fotografias, como aporte didático e metodológico.

• Material didático:
Produzido específicamente para cada tema/curso, ou a partir das demandas do sindicato. Apostilas, cadernos didáticos, com textos, programa, percurso. CD com conteúdo completo de curso.

Direitos dos Trabalhadores, Processos e Condições de Trabalho e Qualidade de Vida e Assédio Moral

11 - Direitos dos Trabalhadores, Processos e Condições de Trabalho e Qualidade de Vida e Assédio Moral

• Modo de produção capitalista, exploração do trabalho e assédio moral
• Lógicas liberal, gestão empresarial, lucro e produtividade
• Conceito de Assédio Moral e suas conseqüência profissionais, físicas e morais.
• Legislação e jurisprudência no enfrentamento do conflito e dano moral.
• Formas de prevenção
• Conseqüências psicológicas e jurídicas do assédio para a vítima,
• Ação sindical contra o assédio moral
• Convenções da OIT

Metodologia de Gestão Sindical e Planejamento Sindical Planejamento Estratégico de Gestão

10 – Metodologia de Gestão Sindical e Planejamento Sindical
Planejamento Estratégico de Gestão


• Diagóstico: Quem somos (missão, meta)
• O que fazemos (mapa das atividades, projetos, frentes de atuação)
• Quais recursos temos disponíveis
> Humanos (nomes, qualificações e funções)
> Materiais (equipamentos, estruturas móveis e imóveis)
> Financeiros (orçamento, fontes de receitas)
> Políticos (governabilidade, decisão, gestão, capacidade de decidir e agir)

• ANÁLISE DA CORRELAÇÃO DE FORÇAS (ALIADOS E ADVERSÁRIOS).
• Relacionar e analisar detalhadamente adversários e os aliados, parceiros.
• CONSTRUÇÃO DE UMA ÁRVORE OU UM MAPA DE OBJETIVOS E PROBLEMAS
• Localizar e descrever os problemas que impedem a realização de seus objetivos
• Localizar, analisar e estabelecer hierarquicamente seus objetivos, por grau de importância
• MAPA OU ARVORE DE AÇÕES ESTRATÉGICAS
• Desenhar um mapa ou árvores com as ações consideradas estratégicas, isto é, fundamentais, numa perspectiva de olhar o futuro e agir no presente
• DESENHAR UM QUADRO DETALHADO DAS AÇÕES (OPERAÇÕES)
• Ações de curto prazo, de médio prazo e de longo prazo
• Prazos para execução
• Responsáveis (quem vai executar ou se responsabilizar por encaminhar a execução)
• Supervisão (quem vai garantir que as ações sejam executadas e não caiam no esquecimento).
• Recursos necessários e disponíveis

Concepção, organização e ação sindical: o sindicato e a organização por local de trabalho

9 - Concepção, organização e ação sindical: o sindicato e a organização por local de trabalho

• O que é sindicato e seu papel na sociedade capitalista >
• O que é ser dirigente sindical, hoje.
• O que é luta de classes, como se manifesta hoje.
• A relação sindicato-local de trabalho.
• A organização sindical de base. As diversas concepções sindicais, hoje:
• Como diagnosticar os problemas do local de trabalho,
• Como atuar no sentido de resolve-los, tarefas imediatas,
• Questões de médio e longo prazo, prazos e responsáveis,
• A comunicação sindical no local de trabalho, quem resolve,
• A legislação sindical, CLT,
• Aspectos de saúde, segurança e condições de trabalho

Como Fazer Análise de Conjuntura: Metodologia e Exercícios

8 - Como Fazer Análise de Conjuntura: Metodologia e Exercícios

• Identificando e discutindo o que é conjuntura,
• Relação infraestrutura e superestrutura.
• Os aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais que envolvem o contexto em que estamos analisando.
• As classes sociais, a luta de classes, a correlação de forças, os aliados, os parceiros e os adversários
• Os diferentes movimentos e projetos políticos em disputa na sociedade.
• Construção de cenários, atores.
• O papel das mídias,
• A dominação pela coerção (repressão) e pelo consenso (convencimento),
• Os diferentes interesses de grupos e frações de classe.
• Os aspectos locais (internos) e gerais (externos).
• Exercício prático-metodológico de análise de conjuntura nos/com movimentos sociais

Construção de Discurso, Linguagem e Prática de Oratória.

7- Construção de Discurso, Linguagem e Prática de Oratória.

• Técnicas de construção de argumentos (produção de textos).
• Teorias e práticas de comunicação oral e/ou escrita para os dirigentes e militantes.
• Tecnicas e exercícios de discursos, persuasão, retórica, argumentação,
• Gravação e análise das imagens e som do(a) orador(a).
• O que dizer, como dizer e para quem dizer.
• Meios e contéudos da linguagem.
• A importância do conhecimento, argumento e inguagem.
• Vocabulário sindical.

Movimento Sindical e Capitalismo: Origens e atualidade da luta de classes e dos sindicatos

6 - Movimento Sindical e Capitalismo: Origens e atualidade da luta de classes e dos sindicatos

• O modo de produção capitalista, a contradição capital-trabalho, preço, lucro, mais valia,
• O trabalho assalariado, divisão social do trabalho, mercadoria, alienação.
• Surgimento das lutas operárias, das idéias socialistas e dos sindicatos. Burgueses x proletários. Luta de classes.
> As idéias de Marx e suas contribuições para a luta dos trabalhadores.
• A formação da classe trabalhadora brasileira, a partir do fim da escravidão, do início do capitalismo industrial e do surgimento do trabalho assalariado no Brasil.
> A contribuição das idéias comunistas, socialistas, trabalhistas e anarquistas na formação do movimento operário e sindical brasileiro.
• As diferentes centrais sindicais e organizações operárias que existiram, ou que existem, hoje, no Brasil.
• O sindicalismo na Era Vargas, as heranças do Estado Novo na legislação e na estrutura sindical brasileira. > O sindicalismo na Ditadura Militar.
• O surgimento do novo sindicalismo, da CUT,
• Os desafios do sindicalismo nos tempos de crise do neoliberalismo.
• Ideologia e políticas neoliberais, a resistência dos trabalhadores.
• As centrais sindicais: Força Sindical, GGT, CGTB, UGT NCST), CSP/CONLUTAS/INTERSINDICAL e CTB
• As concepções sindicais e o sindicalismo diante da conjuntura atual.
• Sindicalismo, movimentos sociais e governo Lula
6 - Movimento Sindical e Capitalismo: Origens e atualidade da luta de classes e dos sindicatos

• O modo de produção capitalista, a contradição capital-trabalho, preço, lucro, mais valia,
• O trabalho assalariado, divisão social do trabalho, mercadoria, alienação.
• Surgimento das lutas operárias, das idéias socialistas e dos sindicatos. Burgueses x proletários. Luta de classes.
> As idéias de Marx e suas contribuições para a luta dos trabalhadores.
• A formação da classe trabalhadora brasileira, a partir do fim da escravidão, do início do capitalismo industrial e do surgimento do trabalho assalariado no Brasil.
> A contribuição das idéias comunistas, socialistas, trabalhistas e anarquistas na formação do movimento operário e sindical brasileiro.
• As diferentes centrais sindicais e organizações operárias que existiram, ou que existem, hoje, no Brasil.
• O sindicalismo na Era Vargas, as heranças do Estado Novo na legislação e na estrutura sindical brasileira. > O sindicalismo na Ditadura Militar.
• O surgimento do novo sindicalismo, da CUT,
• Os desafios do sindicalismo nos tempos de crise do neoliberalismo.
• Ideologia e políticas neoliberais, a resistência dos trabalhadores.
• As centrais sindicais: Força Sindical, GGT, CGTB, UGT NCST), CSP/CONLUTAS/INTERSINDICAL e CTB
• As concepções sindicais e o sindicalismo diante da conjuntura atual.
• Sindicalismo, movimentos sociais e governo Lula

Negociação Coletiva de Trabalho: Estrutura, processos e simulações da negociação coletiva.

5 - Negociação Coletiva de Trabalho: Estrutura, processos e simulações da negociação coletiva.

• As estruturas e os processos da negociação coletiva no Brasil.
• As concepções e as experiências em negociação do movimento sindical.
• A negociação coletiva no Brasil atual.
• Simulações dos processos de negociação, os caminhos, avanços e recuos da negociação.
• O que é negociação coletiva, como se constroe uma pauta,
• Passo a passo, as cláusulas,
• O que é dissidio,
• O que é acordo, convenção, e
• Como se negocia, o que se negocia,
• Exercícios práticos de todas as etapas do processo de negociação coletiva (público e privado).
• Mesas simuladas, sobre os 3 momentos da negociação coletiva

Ética, Relações Interpessoais, Gestão e Prática Sindical, hoje:

4 - Ética, Relações Interpessoais, Gestão e Prática Sindical, hoje:

• Ética, relações interpessoais, trabalho coletivo, respeito à diferença,
• Importância do estudo e da formação para construção de uma ética solidária e participativa, as deformações e burocratizações presentes no sindicalismo hoje,
• A adaptação do movimento sindical à lógica burguesa da competição,
• A ideologia liberal no movimento sindical: Taticismo, movimentismo, corporativismo, individualismo e pragmatismo.

Serviço Público, Sindicato e Participação Política.

3 – Serviço Público, Sindicato e Participação Política.

• Estado, serviço público, trabalhadores públicos no Brasil: História, concepção e organização sindical
• Papel do Estado, poder classes sociais, hegemonia/contra hegemonia
• Brasil: Capitalismo tardio e dependente
• Relação entre economia, poder e política
• A construção das políticas públicas, participação nos conselhos, fóruns de gestão pública,
• A relação entre poder, governo, movimentos sociais e participação política.

Participação Política, Cidadania e Sindicalismo, hoje!

2 - Participação Política, Cidadania e Sindicalismo, hoje!

• Uma abordagem sobre étíca, solidariedade, construção coletiva,
• As relações humanas (interpessoais),
• A prática do(a) dirigente e militante sindical,
• A questão da participação política
• O papel dos movimentos coletivos pela cidadania ativa e direitos sociais, gênero, igualdade racial, políticas públicas,
• A e a relação destes com os sindicatos.
• As reivindicações específicas e suas relações com a reivindicações gerais: Tática e estratégia

Papel dos Representantes nos Locais de Trabalho e as Tarefas do Militante e Dirigente Sindical.

1 - Papel dos Representantes nos Locais de Trabalho e as Tarefas do Militante e Dirigente Sindical.

• O que é sindicato
• O que é ser dirigente sindical
• Relação entre sindicato, partido, movimentos sociais? A questão da autonomia e independência sindical
• A concepção sindical de organização por local de trabalho: História e atualidade
• A OLT: Papel, tarefas. Como organizar, o que fazer,
• Como melhorar a relação direção<>base<>direção.

FORMAÇÃO: CARGA HORÁRIA DOS CURSOS, FORMATOS E RECURSOS DIDÁTICOS

• Carga horária: Cada tema/curso, com mínimo de 12 horas/aulas, máximo de 36 horas/aulas
• Formato: Em módulo único, ou em até 3 módulos.
• Recursos didáticos/metodológicos: Diversas linguagens e ferramentas: Exposição em Power Point, aulas dialogadas, grupos de leituras e produções de conteúdos, dinâmicas coletivas de integração, exercícios práticos dos temas, simulações, dramatizações das situações, utilização de vídeos (documentários, filmes curtos) para ilustração e debate dos temas, pesquisas e atividades intermódulos, ou aprofundamento teórico-prático, utilização de poesias, músicas e fotografias, como aporte didático e metodológico.
• Material didático: Produzido específicamente para cada tema/curso, ou a partir das demandas do sindicato. Apostilas, cadernos didáticos, com textos, programa, percurso. CD com conteúdo completo de curso.

SEM FORMAÇÃO, NOS TORNAMOS ESCRAVOS DO COTIDIANO SINDICAL

SEM FORMAÇÃO, NOS TORNAMOS ESCRAVOS DO COTIDIANO SINDICAL

"A luta, por mais justa que seja, sem a presença do estudo crítico da realidade, da reflexão teórica, perde substância, esvazia-se de conteúdo. Sem a formação continuada e permanente, sem a disciplina de nos tornamos intelectuais de nossa classe, caimos num praticismo, num administrativismo, num burocratismo perigoso, acrítico, apolitizado, e nos tornamos escravos do cotidiano. O sindicato se reduz ao um conjunto de tarefas imediatas, pragmáticas, sem sentido estratégico, transformador e sem ruptura com o status quo." (Florestan Fernandez - Foi sociólogo, professor da USP, fundador do PT, deputado federal constituinte em 1988)

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE GESTÃO - MÉTODO E CONCEITO

Quem planeja, executa! Quem executa, planeja!
Planejamento Estratégico Situacional:
Conceitos e Metodologia

Helder Molina
(Licenciado e Bacharel em História (UFF), mestre em Educação (UFF), doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ), professor da Faculdade de educação (UERJ), pesquisa e assessor em planejamento de gestão institucional, formação política, projetos e estudos sindicais e populares)

1) - Quem planeja é quem executa, quem executa é quem planeja!
Os 4 saberes fundamentais para quem planeja: 1 - Saber explicar a realidade do jogo; 2 - Saber delinear propostas da ação sob forte incerteza; 3 - Saber pensar estratégias para lidar com os outros jogadores e com as circunstâncias, para calcular bem o que podemos fazer, em cada momento, em relação ao que podemos fazer para alcançar os objetivos; 4 - Saber fazer no momento oportuno e com eficácia, recalculando e complementando o plano com um complemento de improvisação subordinada.
Dentre as diferentes metodologias e conceitos de planejamento institucional de gestão, o mais usualmente utilizado nos movimentos sociais e nas instituições é o PES – Planejamento Estratégico Situacional. O método é aplicado, seja com todas as suas etapas e pressupostos, seja adaptando às necessidades e circunstâncias próprias da agenda e da dinâmica de cada instituição e movimento, específicamente. No todo ou em parte, é o método onde a participação direta e ativa dos atores, na arena e cenário concreto, é fundamental para que se tenha legitimidade, governabilidade, eficácia e eficiência. Quem planeja é quem governa, quem governa é quem executa! Esta é a premissa básica da metodologia e do conceito.
O Planejamento Estratégico Situacional - PES, foi inicialmente desenvolvido no Chile, por Carlos Matus (1988), para planejar as ações estratégicas do governo socialista de Salvador Allende. É uma ferramenta que dá suporte para que os atores sociais organizem-se e disputem esse espaço.
No Brasil, foi largamente difundido e desenvolvido pelo Instituto Cajamar, nos anos da década de 1980, e depois adaptado, utilizando recursos de outros métodos, pelo DIEESE e pela CUT. Na década de 1990 foi inserido nos planejamentos dos sindicatos, cooperativas, organizações não governamentais, organizações comunitárias, movimentos sociais, instituições do terceiro setor e mesmo em instituições públicas (prefeituras, órgão públicos, etc).
Importante ressaltar que existem outros métodos e conceitos, também utilizados pelos movimentos sociais, ONGs, prefeituras e governos populares. A prática e a teoria, isto é, a práxis do processo e do método, vai sendo reelaborada coletivamente, nas diferentes interfaces de nosso trabalho, ao longo dos anos com os movimentos populares e sindicatos, nestas duas décadas de aprendizado e troca. O sentido estratégico do planejamento supõe formulação de objetivos e superação de dificuldades que outros atores sociais apresentam. Assim, o cálculo estratégico supõe uma relação com o outro “e isto coloca problemas psicológicos, éticos e afetivos numerosos e complexos” que dificilmente são tratados nos modelos matemáticos para abordar a estratégia (Matus, 1996 a,p. 36).
O aspecto situacional dessa concepção de planejamento considera que a objetividade pura e simples não existe, pois o sujeito está incluído no objeto de planejamento que por sua vez, inclui outros sujeitos que também planejam. Como são inúmeros atores que planejam, “há várias explicações à realidade e todas estão condicionadas pela inserção particular de cada ator na mesma realidade. Assim, o diagnóstico único e a verdade objetiva já não são possíveis” (Matus, 1966b, p.68).
Não é possível predizer comportamentos, mas apenas prever as relações interativas entre adversários e aliados a cada situação. Planejar é pactuar com um grupo de pessoas o que se pretende fazer. Ainda em relação às certezas, para o PES “as forças sociais são o centro do plano”. Como outros atores também planejam e opõe resistências a quem está planejando, é mais adequado falar em pode ser do que deve ser, em termos de futuro.
O planejamento participativo se tornou essencial às prefeituras, movimentos sociais, gabinetes de parlamentares, ONG´s, congregações religiosas ou associação de moradores que solicitavam um roteiro, com passos definidos sobre como organizar o planejamento, ou tornarem-se autônomos na condução e gerenciamento do seu plano de ação (Cajamar, 2007)
A luta dos movimentos sociais possibilitou, na década de 80, a emergência do diálogo com o Estado. A complexidade das relações estabelecidas, das alianças que esses movimentos deveriam fazer na perspectiva da conquista da hegemonia, colocava-lhes a necessidade da busca de eficácia e eficiência. Não bastava entender a sociedade capitalista. Fazia-se necessário interagir com ela na perspectiva dos projetos de interesse das classes populares.
Os governos populares necessitavam de ferramentas que lhes possibilitassem agir frente a estruturas do Estado, viciadas no clientelismo e paternalismo. O planejamento Estratégico e Participativo tornou-se um instrumento eficaz na implantação de políticas públicas para atender a maioria da população e combater a desigualdade, quando está presente nas experiências de orçamento participativo.
O enfrentamento ao neoliberalismo, no terreno ideológico e político, obrigava aos que opunham a essa política a busca de alternativas e sinais de esperança. Organizar ações pontuais pode ter sido o caminho que restou para militantes, cidadãs e cidadãos que não se renderam ao discurso de que só havia um caminho o neoliberal. O planejamento estratégico, como exercício de avaliação dos problemas, partindo de situação de conflito, favorecia momentos de busca de consensos, mais do que debates sobre princípios ou idéias(CAJAMAR< 2
2 – Concepção dialética e participativa de planejamento
O PES pressupõe uma abordagem cuja principal característica é a busca de compreender a realidade, modificando-a. Essa abordagem, baseada na concepção metodológica dialética, leva-nos a compreender a complexidade em que os acontecimentos estão situados e não admite leituras deterministas, embora considere que a estrutura da sociedade esteja demarcada por classes sociais diferentes e opostas.
Do ponto de vista filosófico, trata-se de uma compreensão que incorpora vários aspectos da realidade. Leva em conta o ser humano nas dimensões política, econômica, social, cultural e emocional. Lançamos mão do conceito de práxis humana, como suporte para discutir o planejamento, pois ele trata a prática enquanto atravessada por uma intencionalidade reflexiva, em oposição ao puro pragmatismo.
Para essa concepção, a democracia – enquanto justiça social, pão teto e saúde para todos, liberdade de informação e organização – dá-se em um processo permanente e nunca inteiramente acabado de construção da soberania popular. Em tal processo há a disputa sobre que modelo de Estado é mais adequado para o desenvolvimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais (Wanderley, 1984; e Costa, 1999).
A sociedade civil é parte integrante do Estado. Tanto os partidos, os sindicatos, os movimentos sociais, bem como as ONG´s estão na sociedade civil exercendo papel para democratizá-lo. Desse modo, o fortalecimento da sociedade civil, a construção de espaços públicos e de um Estado permeável ao diálogo é central para a concretização de direitos.
3 - O método consiste em fazer:
A) - Diagnóstico
• Quem somos (missão, meta)
• O que fazemos (mapa das atividades, projetos, frentes de atuação)
• Quais recursos temos disponíveis
- Humanos (nomes, qualificações e funções)
- Materiais (equipamentos, estruturas móveis e imóveis)
- Financeiros (orçamento, fontes de receitas)
- Políticos (governabilidade, decisão, gestão, capacidade de decidir e agir)
B) - Análise da correlação de forças (aliados e adversários).
• Relacionar e analisar detalhadamente adversários e os aliados, parceiros.
C) - Construção de uma árvore ou um mapa de objetivos e problemas
• Localizar e descrever os problemas que impedem a realização de seus objetivos
• Localizar, analisar e estabelecer hierarquicamente seus objetivos, por grau de importância
D) – Mapa ou arvore de ações estratégicas
• Desenhar um mapa ou árvores com as ações consideradas estratégicas, isto é, fundamentais, numa perspectiva de olhar o futuro e agir no presente,
E) – Desenhar um quadro detalhado das ações (operações)
• Ações de curto prazo, de médio prazo e de longo prazo
• Prazos para execução
• Responsáveis (quem vai executar ou se responsabilizar por encaminhar a execução)
• Supervisão (quem vai garantir que as ações sejam executadas e não caiam no esquecimento)
• Recursos necessários e disponíveis
F) Carga horária e local:
Uma boa reflexão coletiva e um bom planejamento estratégico deve ter, no mínimo, 16 a 24 horas de trabalho, isto é, 08 horas de trabalho em dois ou três dias consecutivos, para não perder a continuidade do processo, em local que permita concentração, pontualidade, conforto físico, relacionamento coletivo(atividade cultural, lazer, jogos, bate papo, cantoria, etc.). Portanto, um local reservado e afastado dos afazeres profissionais e pessoas do cotidiano.

4. Etapas do processo de planejamento, segundo o PES
Entendemos que só PLANEJA QUEM EXECUTA, e que só EXECUTA QUEM PLANEJA. Isto não são meras palavras.É uma concepção de planejamento, nela se enxerga os sujeitos do planejamento, sejam gerentes, chefes, supervisores, técnicos, educadores, estagiários, operários, funcionários de apoio, serventes, etc), como os próprios sujeitos da execução e gestão das tarefas apontadas pelo mapa de ações operativas.
Os sujeitos do planejamento são os sujeitos da execução. Cada ação planejada e executada possibilita testa a viabilidade da execução completa do que foi planejado estratégicamente. A não execução geram descontinuidade, desorganização, frustração e o consequente retorno ao improviso e à “política de bombeiro”(apagar incêndios), ou da “ tática da maré” (vai para onde o vento leva).
• Os atores do planejamento devem ter governabilidade e vontade política, isto é, vontade e engajamento para desenvolvimento das ações.
• Legitimidade política dos atores e governabilidade sobre as metas, ações, tarefas e prazos planejados.
• Gerenciamento dos recursos necessários (financeiros, humanos e políticos).
• Vontade política e perseverança em executar o que se planejou.
• Ter um plano de contingenciamento, para enfrentar as emergências, os acontecimentos inesperados e as mudanças de prioridades.
• Quem planeja é quem executa, isto é, os atores deverão participar de todo o planejamento e se envolver na sua execução.
a) Quem é o ator ou grupo que planeja ?
Quando um grupo de pessoas se reúne para planejar, o primeiro passo pe definir quem é o ator que está planejando, que não se confunde com outros atores ,mesmo que entre seus membros algumas pessoas participem de outros grupos também. Para saber quem é o ator que planeja, três coisas são importantes.

• Quem está planejando? É um movimento, entidade, associação, sindicato, gabinete, secretaria ou apenas a coordenação de um desses grupos?
• Onde ele atua? No bairro, na paróquia, na cidade, no estado, na secretaria, na sede ou subsede? Pode ser que o grupo tenha uma atuação nacional.
• O que este ator faz? Sua atuação se dá em que tipo de luta ou intervenção social?
Quem é o ator?
Ator é o sujeito coletivo que está comprometido com a ação e participando do processo de planejamento. “Planeja quem executa e executa quem planeja”.
b) Quais são os problemas que precisam ser enfrentados e resolvidos
O ator, querendo modificar sua realidade na prática, encontra problemas que dificultam atingir seus propósitos. Nesse passo, é necessário listar todos os problemas que atrapalham a ação do ator que planeja.
O que são os problemas?
Problemas são as dificuldades que nos impedem atingir o que queremos. Só tem problemas quem vai realizar algo. É na hora de agir que eles aparecem. Quem não faz nada não tem problemas nem insatisfações. O problema é um desafio, incomoda, está sempre no estado negativo.
Listados os problemas, deve-se decidir quais deles iremos enfrentar primeiro. Para isto, vamos medir em que condições nos encontramos diante dos problemas. Devemos levar em conta nossa governabilidade, nossa capacidade, nossa vontade, o impacto que o problema tem sobre nossa atuação e como o problema nos afeta.
Depois de escolhido o problema que iremos enfrentar, devemos explicá-lo, ou seja, buscar suas causas, que muitas vezes não aparecem. È preciso descobrir o que origina o problema. Se nós tivermos uma compreensão correta do que causa nosso problema, será mais fácil achar o caminho para superá-lo. A tarefa, agora, portanto é listar as causas principais do problema que selecionamos. Na realidade não se trata de buscar uma única causa, mas várias, em momentos distintos, que podem mudar.
Ter governabilidade
Governabilidade são os recursos que o ator tem para decidir e realizar o que foi decidido. O ator pode ter governabilidade alta, média ou baixa, em relação a problemas diferentes. A governabilidade pode ser alta, quando a solução de um problema depende apenas de nós. Quando a solução depende de outros, a governabilidade pode ser média ou baixa.
Ter capacidade e vontade
Capacidade é o conjunto de recursos de todos os tipos que o ator possui para superar seus problemas. Cada problema requer um tipo de capacidade diferente. As capacidades podem ser adquiridas com um treinamento. Em geral, são ligadas a habilidades como conhecimento, recursos materiais e financeiros.
Vontade é o desejo do ator para resolver um problema específico. Ás vezes, um problema está fora de nossa governabilidade, mas como ele causa grande mal-estar, ou por algum outro motivo, o ator tem alta vontade de resolvê-lo.
A vontade está alta para resolver todos os problemas, em geral os atores têm vontade de resolver tudo. Nesse momento, o ator deve pensar qual problema quer enfrentar primeiro. A pergunta aqui é: olhando para esse quadro, qual problema escolheremos por considerá-lo estratégico?

c) Explicitar quais objetivos do ator.
O que são objetivos?
Objetivo é sempre o desejo maior de um ator, porque une um determinado grupo de pessoas. Ele é o fruto do desejo de mudança em relação a uma situação indesejada. Nesse sentido, por um lado, o plano não esgota o objetivo. Por outro lado, os objetivos devem ser explícitos e delimitados
d) Elaborar um plano de ação?
Construir um caminho para chegar a esses resultados esperados, orientados pelo projeto do ator. È a hora de construir o fruto do planejamento, ou seja, o plano de ação. Vários planejamentos fazem apenas essa última parte e, depois, as pessoas se cobram do porquê não conseguirem chegar aos resultados. Quem não explicou a realidade, não avaliou possibilidades, que chances de êxito terá na hora da ação? Planejar requer visão ampla, criatividade e propostas viáveis.
O que é Plano de Ação?
Plano de ação é o conjunto de ações, com os respectivos prazos, as pessoas responsáveis e os recursos necessários, para chegar a um resultado proposto.
O plano é composto por

• Problemas explicitados.
• .Objetivos delimitados
• Ação: tudo de que necessitamos fazer para atingir o resultado proposto;
• Prazo: data precisa em que o gerenciamento será feito;
Responsável: pessoa que nem sempre terá de realizar uma ação, mas será fundamental para que essa ação seja cumprida. O responsável pela ação tem nome e sobrenome, não pode ser o grupo todo;
Recursos: tudo de que necessitamos para realizar a ação. Não apenas recursos financeiros, mas custo, recursos de conhecimento, tempo em horas, infra-estrutura (sala e material necessário), recursos políticos, de organização ou até uma ação realizadora anteriormente.
e) Analisar a viabilidade do plano de ação.
Trata-se de verificar se o plano de ação desenhado tem viabilidade. Não adianta um plano bem elaborado se o grupo não tem os recursos para pó-lo em prática.
O que é analisar a viabilidade de nosso plano de ação?
Analisar a viabilidade é estabelecer a relação entre os recursos de que necessitamos e os recursos que temos efetivamente. Se uma ação é bastante estratégica, ou seja, elimina nossos principais problemas, mas não temos os recursos necessários para realiza-la, então vamos construir o plano de viabilidade
f) Definir como será o gerenciamento.
Por fim, nesse passo, o grupo já tem segurança sobre como e onde quer chegar. Só falta o grupo definir os instrumentos de gerenciamento para execução do plano. Por mais bem feito que seja o nosso plano, e por mais boa vontade que a gente tenha, ainda corremos o perigo de um grande fracasso, se não fecharmos o nosso planejamento com a chave de ouro chamada “gerenciamento”. O ator precisa indicar alguém que, com elegância, cobre de todos a execução do plano. O plano deve ficar à vista, escrito em cartazes. O (a) “gerente” deve trazer o plano para a reunião, com freqüência, para que seja lembrado e corrigido. Da noite para o dia nossa realidade pode mudar e devemos adaptar o nosso plano. Se não for feito em tempo, fracassa. Corrigido na hora certa, todo o grupo reassume com satisfação. O plano não é feito para nos oprimir. Ele é feito para a gente perceber que os frutos estão madurando e que se aproxima à hora alegre de colher o fruto dos resultados esperados.
O que é gerenciamento?
Gerenciamento é monitorar a realização das ações ou modifica-las, se necessário. Teremos, então, o dia-a-dia organizado por estratégias preestabelecidas e a incorporação dos novos desafios que a prática nos coloca. O gerenciamento é importante, porque a realidade é dinâmica e outros atores estão jogando, também, contra ou a favor do nosso projeto.

São instrumentos de gerenciamento:
1. elaborar uma cópia do plano de ação para todas as pessoas envolvidas na execução;
2. formar uma comissão que tome iniciativas, quando surgem algumas surpresas;
3. agendar reuniões de gerenciamento;
4. ir executando, avaliando, mudando ações, elaborando relatórios, prestando conta.
5. afixar o plano mês a mês em um lugar visível para todo o grupo. Acrescentar uma coluna para descrever a situação atual e possíveis encaminhamentos.

O grupo deve decidir as datas de reuniões de gerenciamento e quem entregará as cópias do plano para todas as pessoas envolvidas. Nas reuniões de gerenciamento, verificar a situação atual de cada ação. O gerente, ou a gerente do plano, deve ser uma pessoa com legitimidade política suficiente para cobrar a realização das ações e ao mesmo tempo ver o que cada pessoa precisa.

Realizar avaliação permanente
A avaliação será realizada durante as reuniões de gerenciamento. Por meio dela, iremos colocar nosso plano de ação à prova, a fim de verificar os acertos e erros, o modifica-lo, se necessário.
Realizar avaliação permanente é perceber se as ações planejadas estão modificando a realidade problemática e chegando aos resultados propostos. Esses resultados devem garantir a materialização, na prática, do projeto que o grupo se propõe realizar.
Isso vai apontar os problemas reais não detectados em nossa primeira análise ou problemas reais não detectados em nossa primeira análise ou problemas novos que surgirem após a data do exercício de planejamento. Que novas ações podemos propor a partir da avaliação? Temos que ir fazendo a avaliando, avaliando e fazendo.
Quais foram os grandes problemas enfrentados pelo ator ao longo do último ano? Quais foram os grandes avanços do ator ao longo do ùltimo ano? Qual é o grande desafio para o próximo ano?
A cada reunião de gerenciamento não é necessário realizar todo esse processo de avaliação. Isso pode ficar para uma avaliação anual. Entretanto é importante retomar essa avaliação am algumas reuniões de gerenciamento para analisar os prejuízos causados pelas ações não realizadas e verificar se as ações realizadas estão conduzindo para os resultados esperados e o projeto do grupo
6 – Materiais e Informações prévias, fundamentais ao ato de planejar

a - Orçamento da instituição, grupo, movimento, ou um quadro/mapa de receitas e despesas.Fontes de receitas e explicitação das despesas correntes
b - Número de associados ou participantes, de preferência por setor, orgão, departamento, frente de atuação, grupos específicos, para aferir público e recursos humanos.
c - Quadro detalhado de funcionários, diretos ou indiretos, da instituição, grupo ou movimento, com atribuições, funções e salários destes.
d - Quadro com equipamentes, móveis, imóveis: Tipo: Quantos carros, quantos computadores, quantos telefones, se tem imóvel próprio, quantos fax, quantas impressoras, enfim, um resumo do patrimônio da instituição, grupo ou movimento
e - Quadro completo dos cargos/secretarias/funcões da diretoria, para organizar um organograma da diretoria, um quadro de distribuição de cargos e funções entre os diretores.

7 - Um roteiro com as etapas básicas do Planejamento
Duração de 08 a 10 horas de trabalho
• Abertura, apresentação dos (as) participantes, levantamento das expectativas, dinâmica de socialização do grupo
• Análise do contexto (conjuntura): Cenário econômico e sócio político, cenário sindical, correlação de forças, aliados táticos e estratégicos, adversários táticos e estratégicos
• Caracterização do ator: Como funciona e qual a situação atual da entidade, grupo, instituição? (Diagnóstico analisado, sobre receitas, despesas, recursos políticos, infra estrutura humana e material)
• Identificação dos principais problemas caracterizados na instituição, movimento entidade

Duração de 08 a 10 horas de trabalho
• Definição das principais diretrizes, metas e objetivos da gestão
• Explicação dos problemas (Mapa: O que? Como? Quem? Quando?)
• Grupos: Proposição de ações
• Grupos: Organização e detalhamento das ações
• Plenária:
• Plano de Operações (Organização e detalhamento das ações)
• Recursos (políticos e financeiros) para execução do plano
• Definição do quadro de tarefas, responsáveis e prazos (curto, médio e longo prazos)
• Avaliação e encerramento

Bibliografia:
CAJAMAR, Instituto. Curso de Planejamento Estratégico Institucional, apostila, São Paulo, 1998,.
MOLINA, Helder. Planejamento Estratégico: Conceitos e Metodologia, Rio de Janeiro, 2002.
SILVA, Marcos José Pereira. Onze passos do planejamento estratégico participativo.In: Markus Brose (org) Metodologia Participativa. Uma introdução a 20 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001.pp.161-176.

EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA! DIGNIDADE PARA QUEM EDUCA!!

Publiquei, agora há pouco, ao longo do meu mural, 30 ítens de uma entrevista minha, que foi publicado no Folha Dirigida...como as coisas não facebook, são muito fragmentadas, instantâneas, aceleradas, cortadas, pontuais, entrecortadas, enfim...quem quiser ler o conteúdo na íntegra...segue abaixo, siga o "ver mais..."Helder Helder Molina Molina

EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA: DIGNIDADE PARA QUEM EDUCA
Abaixo publicamos a entrevista do professor da Universidade do Rio de Janeiro Helder Molina concedida ao jornal Folha Dirigida sobre valorização dos trabalhadores da escola pública. Confira:

Folha Dirigida: Qual análise o senhor faz das greves e paralisações feitas pelos professores no Brasil?

Helder Molina: Quando os trabalhadores da educação entram em greve é porque já se esgotaram todos os espaços de mediação, os canais de negociação já estão totalmente obstruídos pela intransigência dos governos. Nenhum trabalhador ou trabalhadora gosta de fazer greve, ela é uma medida extrema. Uma greve desgasta todos que vivem e precisam da escola. Os alunos, os pais, a comunidade, o currículo, o desenvolvimento das atividades pedagógicas, a produção do conhecimento, o planejamento didático, as férias, enfim. Mas a verdade é que, se os professores e funcionários de escola não fazem greve, suas vozes não são ouvidas, suas reivindicações não são seque conhecidas pela sociedade e reconhecidas pelos governos.

Vivemos uma crescente e degradante precarização das condições de trabalho e de salário, principalmente na escola pública. Mas de metade dos professores e funcionários trabalham com contratos temporários, vivem em situação de precarização, são garantias de salários, direitos fundamentais, como férias, 13o terceiro, aposentadoria, previdência, etc. Uma nova escravidão, de salários indignos e condições degradantes de trabalho.

Vejam as condições das escolas, a situação das salas de aulas, faltam equipamentos, materiais. Os concursos públicos são cada vez mais demorados, e só existem a custa de muitas lutas, denúncias, mobilizações dos próprios professores e funcionários. E os concursados ficam meses, até anos, aguardando para serem convocados, e quando são, já praticamente duplicou, ou triplicou, a falta de profissionais, e novamente os governos buscam o "exército intelectual de reserva", isto é, uma enorme quantidade de profissionais que se subordinam a trabalhar por condições precárias e contratos temporários.

Por isso todo ano tem que fazer campanha salarial, mobilização, passeatas, paralizações, greves. A terceirização, precarização, degradação dos direitos, desvio e má gestão dos recursos, e abandono da escola, este é o retrato da escola, o quadro tétrico que temos que, infelizmente, apresentar no dia do professor. A educação como prioridade é uma demagogia barata nas bocas dos candidatos e governantes. A verdade é que a escola pública ainda resiste porque os trabalhadores que nela estão são convocados, dia apos dia, a resistir e defendê-la.

Hoje a educação é tratada como mercadoria, há uma crescente mercantilização do ensino. A escola privada é um grande negócio de empresários, e a escola pública, na visão empresarial, deve ser gerida baseada na meritocracia, produtivismo, mercantilismo, e outros ismos do neoliberalismo

F.D: Fazer greve todo ano, no Brasil, já faz parte do calendário das redes públicas? Pode ter virado uma questão cultural?

H.M: Não se trata de uma questão cultural, se trata de uma luta por direitos, de um grito dos profissionais da escola. A escola pública é uma conquista da sociedade democrática, da luta contra o elitismo que impera na nossa cultura. Uma conquista de muitos movimentos, dos sindicatos, da cidadania democrática, das organizações populares, dos partidos progressistas.

O povo precisa da escola pública, os trabalhadores só terão acesso ao conhecimento, à ciência, à tecnologia, se existir a escola pública, seja ela fundamental, média ou superior. Os ricos não precisam da escola pública, eles já têm acesso aos bens culturais e educacionais, produzidos pela divisão de classes, pela segmentação dos lucros, pelo acesso ao Estado, enfim.

Não há um calendário dizendo que tem greve anotada na agenda, quem diz isso são os sacerdotes da privataria, os intelectuais que defendem a escola como mercado e a educação como mercadoria. Todos os anos nos planejamos para dar o melhor de nós, produzir boas aulas, fazer o melhor para nossos alunos, desenvolver conhecimentos, enfim.

Mas, vejam os salários dos professores e professoras? Vejam os salários dos profissionais de apoio?
Acha que dá apara viver com essa miséria no final do mês? ter que trabalhar em três ou quatro escolas, para poder pagar as contas no final do mês de trabalho?

Como se qualificar? trabalhando em tantos lugares, parecendo mascates, peregrinos andarilhos, de ônibus, de trem, de carona, pagando de seu próprio bolso, pois os penduricalhos que pagam como benefício mal dá para pegar ônibus, muitas viajam de carona, ou mesmo a pé.

Dá para falar em questão cultural? quem diz isso não conhece o cotidiano de quem vivem com R$ 800, 00, R$ 900,00 por mês. Nenhum profissional merece condição tão degradante, sem falar no assédio moral, no adoecimento psíquico, na depressão, insônia, angústia por ver a situação da escola como está, na violência que cerca a escola, e a invade e a domina?
F. D: Por que estes movimentos ainda são tão ineficazes e pouco rentáveis?
H. M: Depende do ponto de vista que se olha. Como disse anteriormente, só existe escola pública porque milhares de profissionais se dedicam a ela, e não é só pelo salário, é pela ideologia da defesa do público, pelo compromisso da garantia do espaço de produção do conhecimento útil aos trabalhadores, aos pobres, único espaço onde os pobres podem sonhar em serem sujeitos, terem futuro.

Pensemos sinceramente: há futuro para os pobres, para os excluídos, se deixam de existir a escola pública? E não se trata de pensar que as greves sejam rentáveis, se trata de lutar pela sobrevivência material, mais que isso, de garantir que o conhecimento, a ciência, a tecnologia seja protagonizada pelos trabalhadores.

E verdade que as greves se arrastam, pois os governos viram as costas, greve de educadores não mexe na taxa de lucros, não produz mais valia, enfim, não se trata de um setor produtivo, do ponto de vista de mercadorias, como uma fábrica, um banco, enfim. Mas se tratam de um setor extremamente importante para a democracia, a cidadania, os direitos sociais.

São eficazes porque denuncia os descasos, os desrespeitos, a escravidão vivida pelos profissionais de apoio, e pelos educadores, nas injustas e indignas condições de vida e de trabalho. Do ponto de vista do mercado, rentável é taxa de juros altos, financeirização da educação, vender ações nas bolsas de valores, trocar professor de carne e osso, por televisão, aulas à distância, tutoria, etc. Não produzimos para o mercado, produzimos para a sociedade, para os setores mais marginalizados, mais abandonados pelo Estado oficial e pela lógica econômica da eficácia e da eficiência.

F. D: A sociedade ainda é insensível às causas da educação e dos professores?

H.M: Há uma espécie de anestesiamento social, de individualismo, de domínio da lógica do consumo, do que vale é o indivíduo, o mérito individual, cada um por si. A lógica da competição, do mercado, do lucro. Vale mais o ter do que o ser. O direito à propriedade está acima do direito à vida. Um banqueiro que lucra 1 bilhão de reais, com juros altos, câmbio e bolsa de valores, não é criminoso, mas um sem teto que pede esmolas na porta de um banco é preso como perigo à propriedade privada e à riqueza individual.

Daí se explica o desprezo pelo público, pelo coletivo, um esvaziamento da esfera pública, a morte da política como bem comum, com vontade geral. Quem pode, paga escola particular, quem não pode, que suporte a degradante escola pública. Greve? coisa de preguiçosos, baderneiros, vagabundos, quem mandou escolher ser professor? O desdém e o desprezo com a "rés” pública, isto é, com a coisa púbica, são grandes aliados da privatização e do elitismo, e da exclusão.

F. D: O senhor acha que os alunos são mesmo os grandes prejudicados nesta queda de braço entre professores e o poder público?

H.M: Não vejo como queda de braços, vejo como uma luta justa por direitos. os alunos são muito mais prejudicados pela falta de professores, pela carência de material, pela degradante condição física da escola atual,, É degradada pela violência, pelo desemprego, miséria social ausência de políticas pública, enfim. Os professores e os alunos não são inimigos, são aliados, parceiros, na defesa da escola pública, inimigos são os que a querem privatizar, ou simplesmente destruí-las, tornar uma escola pobre para os pobres, e outra escola rica, para os ricos, aprofundando o dualismo educacional.

O poder público, com a lógica privatista, é o grande inimigo da escola pública, da universidade pública, veja o caso da UERJ, onde mais de 50% dos professores são precarizados, com contratos de seis meses, sem direito a pesquisa, sem carreira, sem dignidade profissional, não podem sequer votar nas questões que decidem os destinos de universidade onde trabalham, isso não é uma nova forma de escravidão? escravidão neoliberal, fica bonito falar desse jeito pós moderno

F. D: Estamos atrasados nas nossas demandas, e também nas formas de reivindicação?

H.M: Existem muitas formas de lutas, como abaixo assinados, internet, festivais, corridas. passeatas, enfim. Mas a greve ainda é fundamental, não perdeu a validade, e só nela, infelizmente, saímos da invisibilidade, do ostracismo, sem gritar, morremos, matam-nos a voz, depois a alma, depois podem fechar a escola. Nossa alma está no nosso trabalho, nele nos identificamos.

Produzimos nossas vidas, somos dignos pelo nosso trabalho, amamos ser professores, trabalhamos com a produção do conhecimento, com a produção de subjetividade, sensibilidade, buscamos produzir a solidariedade, a troca que gera vida, quer sentido melhor? semear solidariedade, para gerar vida plena?

F. D: É possível fazer um paralelo entre as ações sindicais no Brasil e no exterior?

H.M: Sim, os trabalhadores continuam lutando, as crises são dos ricos, dos patrões, dos banqueiros, dos governos que gastam o dinheiro público para salvar e aumentar riquezas privadas, e querem que nós paguemos a conta. Os trabalhadores da educação lutam no Brasil, na América Latina, no mundo, em defesa do direito à educação, pela manutenção da escola pública, dos direitos sociais, dos direitos humanos, enfim, da vida. Só a vida se ela for partilhada. Somos trabalhadores da vida partilhada.