domingo, 21 de abril de 2013

Porque a direita perde no Brasil ? (Emir Sader)

A direita esgotou suas distintas modalidades de governo – ditadura militar, governos neoliberais – entre 1964 e 2002, ficou esvaziada de alternativas e tem que ver, passivamente, governos pós-neoliberais derrotá-la – de 2002 a 2010, muito provavelmente 2014, completando, pelo menos, 16 anos fora do governo.

Por que isso acontece? Em primeiro lugar, porque se equivoca nos diagnósticos dos problemas brasileiros e coloca em prática soluções equivocadas, sem capacidade de fazer autocritica e emendar seus caminhos.

Prévio ao golpe de 1964, o diagnóstico se voltava contra “a subversão”, acusando complôs internacionais que buscaria implantar no Brasil “o comunismo”. O Estadão, por exemplo, chamava, nos seus vetustos editoriais, o moderado governo Jango de governo “petebo-castro-comunista”.

Daí que o centro do regime militar foi a repressão, para extirpar todos os vírus da subversão, limpando o organismo brasileiro dos elementos infiltrados. Nasceu de um golpe apoiado consensualmente pelo bloco dominante – grande empresariado, imprensa, Igreja católica, governo dos EUA, FFAA.

Passada a euforia inicial, o regime se estabilizou apoiado sempre na repressão, mas também numa política econômica, em que o santo do “milagre” foi o arrocho salarial, que permitiu o crescimento exponencial da exploração dos trabalhadores e dos lucros das grandes empresas nacionais e estrangeiras.

A retomada do crescimento econômico se baseou num modelo com um marco classista evidente: se baseava no consumo das esferas altas do mercado e na exportação, relegando a grande massa da população, afetada pelo arrocho salarial. Foi uma lua de mel idílica para o grande capital, que recebia todo o apoio governamental e não encontrava resistência nos sindicatos – todos sob intervenção militar.

Foi um sucesso que, assentado também nos empréstimos externos – especialmente quando o capitalismo internacional passou do seu ciclo longo expansivo do segundo pós-guerra a seu ciclo longo recessivo, iniciado em 1973 –, o que fez com que o modelo se esgotasse com a crise da divida – na virada dos anos 1970 à década seguinte.

Passou-se a apostar na democracia como a solução de tantos problemas acumulados no Brasil. O bloco dominante fez uma tortuosa transição da passagem do apoio à ditadura para a democracia, ajudado pela fundação do PFL e pela aliança, pela derrota da campanha das diretas e pela eleição do novo presidente pelo Colégio Eleitoral, que consagrou a aliança entre o velho e o novo – este na sua modalidade mais moderada, com Tancredo Neves.

O governo Sarney funcionou como transição entre a temática ditadura/democracia para a temática Estado/mercado. A democratização reduziu-se ao restabelecimento formal dos direitos políticos, sem democratizar nenhuma outra estrutura da sociedade: nem as grandes corporações privadas, nem os bancos, a terra, a mídia.

Com Collor introduziu-se no Brasil o diagnóstico neoliberal: a economia não voltava a crescer por excesso de regulamentação. E, no seu bojo, vieram as privatizações, o Estado mínimo, a precarização laboral, a abertura do mercado. A queda do Collor deixou essas bandeiras disponíveis, que encontraram em FHC sua reformulação – naquela que passou, até hoje, a ser o diagnóstico da direita sobre os problemas do Brasil, resumidos num tema: o Estado não é a solução, mas o problema – como enunciado por Ronald Reagan há já mais de 30 anos.

Lula veio para desmontar esses diagnósticos. O Estado mínimo favoreceu a centralidade do mercado e, com ela, a exclusão social e a concentração de renda, pela falta de proteção que politicas sociais levadas a cabo pelo Estado poderiam levar adiante.

O sucesso dos governos Lula e Dilma deixa desarmados e desconcertados os próceres – partidários e midiáticos – da direita. A crise do capitalismo iniciada em 2008 e que segue sem hora para acabar, gerou um novo consenso na necessidade de intervenção anticíclica do Estado. A capacidade de resistência dos governos progressistas da América Latina pela prioridade das politicas sociais, dos processos de integração regional e dos intercâmbios Sul-Sul, e pela recuperação do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia das dos direitos sociais da maioria – terminou de desarvorar a direita e deixá-la sem plataforma e sem alternativas.

Os candidatos que buscam uma brecha para se projetar – sejam Serra, Heloisa Helena, Alckmin, Marina, Plínio, Aécio, Eduardo Campos – se situam à direita do governo. Não conseguem reconhecer o extraordinário processo de democratização social que o pais vive há mais de 10 anos. Ou tentam aparecer como seus continuadores – como na primeira parte da campanha do Serra em 2010 –, ou desconhecem o novo panorama social brasileiro e atacam o Estado – de forma direta, como o Alckmin em 2006, ou de forma indireta, com a centralidade do combate à corrupção, outra forma do diagnostico de que o problema do Brasil é o Estado ou ainda na temática ecológica com a visão de que a “sociedade civil” é alternativa ao Estado, como a Marina.

Assim, a direita perdeu em 2002, 2006, 2010, e tem todas as possibilidades de seguir perdendo em 2014 e depois também. Porque não entende o Brasil contemporâneo, seu diagnóstico ainda é o neoliberal.

Sobre ação política e mobilização coletiva dos (as) trabalhadores(as), e formação ideológica

Sobre ação política e mobilização coletiva dos (as) trabalhadores(as), e formação ideológica



Helder Molina

Historiador, mestre em Educação/UFF, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana, professor da Faculdade de Educação da UERJ, educador e pesquisador sindical, assessor e consultor de formação.Email: professorheldemolina@gmail.com, facebook: Helder Molina MolinaFone: 21 99769 4933


1. AS LUTAS COLETIVAS ORGANIZAM A CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE DE CLASSE:

Ø Os trabalhadores se educam politicamente nas lutas permanentes, nos debates nas assembleias, na importância da formação política, nos cursos de formação, para alargar nossa visão de sociedade, superando o corporativismo e o burocratismo, que nos faz olhar para os próprios umbigos. As mesas nacionais e setoriais de negociação com o governo, os grupos de trabalhos, os avanços nas negociações com o governo, agora que temos um governo que negocia, ouve os trabalhadores, e reconstrói o Estado, que foi destruído nos tempos neoliberais, tudo isso é importante, mas não pode substituir a autonomia, a independência e a luta dos trabalhadores.

2. PAPEL DO SINDICATO É ORGANIZAR A LUTA, EM CADA LOCAL DE TRABALHO:

Ø O local de trabalho é a raiz do sindicato, e energia vital da classe está na experiência concreta e contraditória vivida pelo trabalhador na venda de sua força de trabalho, que produz mais vale, e o lucro do patrão. O sindicato, além de se organizar pela base, deve ser independente de partidos e do Estado, ter autonomia e se basear nos reais interesses dos trabalhadores, pois a classe é plural, do posto de vista político-partidário, respeitando essa pluralidade, deve-se disputar a consciência numa perspectiva de ganha-la para o projeto da nossa classe, elevando sua consciência e reafirmando sempre que só a luta conquista direito, e que tudo que conquistamos até hoje é fruto de nossa luta e organização.

3 – PARTIR DAS LUTAS ECONOMICISTAS, SALARIAIS, ELEVANDO-AS PARA LUTAS POLÍTICAS CONTRA O CAPITAL:

Ø O sindicato deve lutar pela defesa dos direitos dos trabalhadores. O papel fundamental dos sindicatos é a luta e a negociação, na busca e garantia dos direitos sindicais, políticos, sociais e trabalhistas. O sindicato deve priorizar a organização nos locais de trabalho, estar sempre junto dos trabalhadores, ouvindo suas reivindicações, escutando suas propostas, buscando politizá-lo, trazer para a luta coletiva. Sozinho ninguém conquista nada. O dirigente sindical deve ser paciente, tolerante, ter argumentos, precisa estudar, conhecer a realidade, discutir conjuntura, entender de economia e de política, pois ele é um formador de opinião, um exemplo para os trabalhadores. A luta prática educa os trabalhadores, no cotidiano dos enfrentamentos com os patrões e os governos, mas precisa estudar, conhecer teoria, aprofundar os conhecimentos, enfim.

4 – FORMAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA, CAMINHA LADO A LADO QUE O TRABALHO DE BASE:

Ø Estudar e conhecer a história da nossa classe e dos sindicatos. Conhecer e analisar o que é o capitalismo, a sociedade capitalista, as classes sociais, o Estado, o papel dos sindicatos, a organização e luta na defesa dos direitos dos trabalhadores.Conhecer as concepções e a estrutura sindical, os desafios atuais, as dificuldades enfrentadas hoje, pelos trabalhadores, na conquista e garantia de seus direitos. A formação também deve ensinar o dirigente sindical a planejar a gestão, definir metas e objetivos, quais ações devem desenvolver. Como se comunicar, falar em público, convencer, argumentar, como negociar, como participar nas mesas como fazer uma pauta, como conduzir uma assembléia, uma plenária, etc.

5 – UNIR A LUTA IMEDIATA COM AS LUTAS HISTÓRICAS, EIS O PAPEL DA FORMAÇÃO
Ø Um dos objetivos principais da formação é construir novas lideranças, ajudar a construir no militante uma consciência mais solidária,mais fraterna, que nada cai do céu, que as conquistas vem em processos que muitas vezes duram longos períodos. A Formação sindical tem o papel também de renovar a militância sindical, para dar continuidade à organização e luta dos trabalhadores em defesa de seus direitos. Penso que a formação é uma ferramenta muito importante para fortalecer a ação sindical, resgatar a história de lutas de nossa classe e de nosso movimento, discutir e atualizar o debate sobre as concepções e estruturas sindicais, de ontem e as atuais, mas fundamentalmente, para mim, o papel da formação é dar conhecimento político, argumento e conteúdos para compreender o mundo, a realidade social, a luta de classes e busca de uma sociedade democrática e justa.

6 - O OBJETIVO ESTRATÉGICO É DERROTAR O CAPITAL, SUPERAR O CAPITALISTMO E CONSTRUIR UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA E SOCIALISTA

Ø Desde o surgimento do capitalismo os trabalhadores lutam para garantir seus direitos. O capitalismo, e o capitalista, vive da exploração dos trabalhadores, a produção dos lucros vem do trabalho não pago aos trabalhadores. O trabalho do trabalhador é que produz as mercadorias, as riquezas, transforma a natureza, mas o nosso trabalho é apropriado, expropriado pelos capitalistas, pelos patrões, e nisso se assenta a exploração, a exclusão social, a miséria. A concentração de renda, a acumulação dos lucros advém dessa exploração e exclusão. Lutamos contra o capitalismo, e buscamos uma economia, Estado e sociedade em que o trabalho humano, e suas riquezas, sejam distribuídos de forma justa e equilibrada, entre os trabalhadores. Uma luta coletiva, processual, que se afirma em cada greve, cada mobilização, cada combate, nas vitórias e nas derrotas.


Helder Molina é historiador, mestre em Educação/UFF, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana, professor da Faculdade de Educação da UERJ, educador e pesquisador sindical, assessor e consultor de formação.
Email: professorheldemolina@gmail.com, facebook: Helder Molina Molina. Fone: 21 99769 4933

Formação política como ferramenta para construir consciência de classe e fortalecer a luta dos trabalhadores

Formação política como ferramenta para construir

consciência de classe e fortalecer a luta dos trabalhadores



Helder Molina

(Professor da Faculdade de Educação da UERJ, e assessor de formação do SINPAF)



Um dos compromissos da atual diretoria do SINPAF foi desenvolver uma programa nacional de formação, que está sendo implementado em todas as regiões do Brasil, formando dirigentes das seções sindicais, militantes e trabalhadores de base.



Com esse curso nacional, buscamos fortalecer a ação sindical nos locais de trabalho, seções sindicais, regionais, e nas diversas áreas de atuação política e sindical, para a disputa de hegemonia na sociedade, na defesa dos direitos dos (as) trabalhadores (as).



Com isso, resgatar e conhecer a história de lutas de nossa classe e de nosso movimento, como instrumento necessário para a identidade e consciência de classe. Discutir e atualizar o debate sobre as concepções e estruturas sindicais da CUT, para compreender o mundo, a realidade social, a luta de classes e busca de uma sociedade democrática e justa. Fortalecer os vínculos orgânicos do SINPAF, com a concepção e princípios sindicais do sindicalismo combativo, autônomo, independente dos patrões, dos governos e dos partidos políticos.



E construir e consolidar os Coletivos Regionais de Formação do SINPAF, como fórum e instrumento de elaboração, gestão e execução da Política de Formação do SINPAF. Possibilitar a construção de espaços de troca e socialização das experiências, desenvolvimento de relações solidárias e fraternas, na construção de um ser humano emancipado, autônomo e sujeito político coletivo.



Utilizamos diversas linguagens, com recursos lúdicos e interativos, como aulas expositivas, estudos de textos básicos sobre os temas, com produção de sínteses e debate, exibições/debates de filmes curtos e documentários políticos e sindicais vinculados aos temas, com recursos fotografias, documentos históricos, músicas, crônicas e poesias, dinâmicas teatrais, como esquetes e encenações, atividades de sociabilização e jogos de integração,



O curso está sendo desenvolvido em formato de módulos, com carga horária de 20 horas/aulas por módulos, sendo 16 horas presenciais, e 4 horas de pesquisa e atividade intermodular, total de 100 horas. Em todas as cinco regiões do pais, módulos articulados, formação continuada, isto é, em sequência, com o mesmo grupo.



Nas regiões norte e sul já completamos o segundo módulo, com participação de cerca de 25 participantes. Na região centro oeste vamos realizar o segundo módulo, e iniciaremos o curso nas regiões nordeste e sudeste ainda neste semestre.



No módulo I o conteúdo aborda a História das Sociedades e dos Modos de Produção, Modo de produção capitalista: as origens históricas e sociais do Capitalismo, As lógicas da propriedade privada, da acumulação, exploração e lucro. A mercadoria. O preço. A mais-valia. As classes sociais. Ideologia e Consciência de Classe e o Tema Transversal: Comunicação.

No módulo II os temas são a CUT: História, Concepções, Princípios e Projeto Sindical, a Liberdade, independência e autonomia sindical, Sinpaf: História, organograma, conquistas e bandeiras de lutaTema Transversal: Saúde do Trabalhador,



Nos módulo 3 e 4 estudaremos as Concepção de Sociedade, Estado e Desenvolvimento, Relação entre Sindicatos, Movimentos Sociais, Governos /Partidos, e o tema Transversal: Saude do Trabalhador, Gestão, Administração e Planejamento Sindical



O SINPAF compreende que a consciência de classe e a participação política dos trabalhadores se constroem nas lutas coletivas, de forma processual, que se afirma em cada greve, cada mobilização, cada combate, nas vitórias e nas derrotas.O sindicato deve lutar pela defesa dos direitos dos trabalhadores. O papel fundamental dos sindicatos é a luta e a negociação, na busca e garantia dos direitos sindicais, políticos, sociais e trabalhistas.



O sindicato deve priorizar a organização nos locais de trabalho, estar sempre junto dos trabalhadores, ouvindo suas reivindicações, escutando suas propostas, buscando politizá-lo, trazer para a luta coletiva. Sozinho ninguém conquista nada. O dirigente e militante sindical deve ser paciente, tolerante, ter argumentos, precisa estudar, conhecer a realidade, discutir conjuntura, entender de economia e de política, pois ele é um formador de opinião, um exemplo para os trabalhadores. A luta prática educa os trabalhadores, no cotidiano dos enfrentamentos com os patrões e os governos, mas precisa estudar, conhecer teoria, aprofundar os conhecimentos, enfim.



Desde o surgimento do capitalismo os trabalhadores lutam para garantir seus direitos. O capitalismo, e o capitalista, vive da exploração dos trabalhadores, a produção dos lucros vem do trabalho não pago aos trabalhadores. O trabalho do trabalhador é que produz as mercadorias, as riquezas, transforma a natureza, mas o nosso trabalho é apropriado, expropriado pelos capitalistas, pelos patrões, e nisso se assenta a exploração, a exclusão social, a miséria. A concentração de renda, a acumulação dos lucros advem dessa exploração e exclusão. Lutamos contra o capitalismo, e buscamos uma economia, Estado e sociedade em que o trabalho humano, e suas riquezas, sejam distribuidos de forma justa e equilibrada, entre os trabalhadores.



A discussão acerca da autonomia e independência sindical; o resgate da credibilidade da base junto a suas lideranças e ferramentas de luta; o exercício do sindicalismo plural; a democratização dos processos de discussão e tomada de decisão; a formação política de nossas lideranças e da própria base e a participação das mulheres na luta sindical constituem-se hoje em pontos importantes para o avanço da nossa prática.



As ameaças e ataques recentes aos direitos trabalhistas e à liberdade sindical, associadas a um crescente processo de cooptação das organizações dos trabalhadores e suas lideranças, são sintomas que justificam claramente a necessidade do debate dessas questões em nosso meio.



A articulação reflexiva sobre nossa prática social e corporativa, juntamente com a análise das políticas públicas para pesquisa e desenvolvimento agropecuário, é um exercício necessário e oportuno para melhor definição de nosso posicionamento político frente às demandas apresentadas ao SINPAF por nossa base e por diversos atores sociais.



Temos sempre como referência as palavras do sociólogo Florestan Fernandes, ao afirmar que a "a luta, por mais justa que seja, sem a presença do estudo crítico da realidade, da reflexão teórica, perde substância, esvazia-se de conteúdo. Sem a formação continuada e permanente, sem a disciplina de nos tornamos intelectuais de nossa classe, caimos num praticismo, num administrativismo, num burocratismo perigoso, acrítico, apolitizado, e nos tornamos escravos do cotidiano. O sindicato se reduz ao um conjunto de tarefas imediatas, pragmáticas, sem sentido estratégico, transformador e sem ruptura com o status quo."





Helder Molina

(Professor da Faculdade de Educação da UERJ, e assessor de formação do SINPAF)