quarta-feira, 27 de maio de 2009

GADO SE FERRA, TANGE E MATA. MAS COM GENTE É DIFERENTE

Disparada
(Geraldo Vandré)

Canta: Zé Ramalho

Prepare o seu coracao pras coisas que eu vou contar
Eu venho la do sertao, eu venho la do sertao
Eu venho la do sertao e posso nao lhe agradar
Aprendir a dizer nao,ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo pra consertar
Na boiada ja fui boi, mas um dia me montei
Nao por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porem por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laco firme e braco forte

Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visoes se clareando
As visoes se clareando, ate que um dia acordei
Entao nao pude seguir valente em lugar tenente

O dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente e diferente
Se voce nao concordar nao posso me desculpar
Nao canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar voce de lado, vou cantar noutro lugar
Na boiada ja fui boi,boiadeiro ja fui rei

Nao por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu,querer mais longe que eu

terça-feira, 19 de maio de 2009

Formação, consciência de classe e ação política

FORMAÇÃO: CONSCIÊNCIA DE CLASSE E AÇÃO POLÍTICA


Helder Molina (*)

A emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores, as mudanças sociais profundas só foram realizadas a custo de muita luta de nossa classe.
A única classe que desejo, pode e precisa mudar o mundo é a classe dos trabalhadores.
Essas questões só podem ser compreendidas se estudar paciente e atentamente a realidade.
Conhecer para lutar melhor.
Debater para aprender coletivamente.
A formação é mais do que nunca essencial para os sindicatos e para todos movimentos sociais.
Formas novos militantes, descobrir coletivamente novas estratégias e formas de lutas.
O mundo hoje é complexo, mas não adiante só constatar isso.
Todas as vêzes em que terminamos um curso ou seminário de formação, no momento da avaliação, a maioria dos participantes reafi rmam a importância da formação política, tanto para os novos quanto para os antigos militantes e dirigentes.
Que a formação deve ser prioridade, deve ser continuada, abordar outros temas, para compreender a história, a economia, a política, a sociedade, direitos sociais, meio ambiente, saúde, gênero, cultura, educação, o Estado, enfim, aprofundar o conhecimento sobre todos os aspectos da vida do trabalhador.
E esse sentimento de que a formação é algo estratégico, fundamental e necessário, vem sendo manifestado em todos os espaços de debate das direções, congressos e plenárias sindicais.É verdade que vivemos um tempo complexo, com profundas e aceleradas mudanças no mundo do trabalho, de globalização, crise do emprego formal e do trabalho assalariado.
Um tempo em que a dominação capitalista se traveste de novas formas de gestão, de novos métodos de produção, de novas sociabilizadas baseadas no consumo, no individualismo, na competição é na desenfreada busca de respostas individuais para problemas que só podem ser resolvidos coletivamente.
As inovações tecnológicas, o endeusamento do mercado, que transforma o dinheiro numa religião, a alienação crescente dos jovens, a falta de perspectivas profissionais, a exclusão crescente das massas trabalhadoras, colocam para nós o desafio de se debruçar nos estudos, abandonar as respostas fáceis, os chavões, as palavras de ordens vazias de conteúdos, e aprofundar na reflexão política da realidade em que vivemos.
Ler, criticar o que lê, estabelecer comparações sobre o que se está lendo, buscar dados, informações complementares, se abastecer de teoria, para enfrentar um praticismo cada dia mais despolitizado que assola o sindicalismo atual.
A formação é uma arma estratégica, uma ferramenta cada dia mais essencial, pois ela permite o debate, a reflexão coletiva, a elaboração científica das respostas aos nossos atuais desafios.
O próprio movimento sindical passa por profundas mudanças, temos o desafio colocado pela reconhecimento e legalização das centrais sindicais, pelo nova confi guração da estrutura sindical atual.
Tarefas cada dia mais importantes como a luta pela redução da jornada de trabalho, o combate ao imposto sindical e a busca de novas formas autônomas e livres de fi nanciamento dos sindicatos, a necessidade de se realizar campanhas massivas de sindicalização, no sentido de fortalecer os sindicatos.
As lutas pela aprovação das convenções da OIT (87, 151, 158), entre outras urgentes tarefas.
No setor público, garantir as mesas de negociação, a ampliação e defesa dos direitos, o respeito ao trabalhador do serviço público.Por isso criar, ter, manter e aprofundar seu plano de formação política e sindical, fortalecendo as delegacias, OLTs, sessões sindicais, CIPAs, núcleos, representações por locais de trabalho, etc, politizando os debates, ampliando sua representação, trazendo novos filiados, dando argumentos aos seus dirigentes nos embates contra o Estado e os patrões.
O sindicalismo combativo deve aprofundar a formação, para consolidar-se, tornar-se mais representativa, forte, democrática, autônoma, independente, e de luta e enraizada em todo território nacional. Não é hora de divisão, é hora de dar sentido e engajamento estratégico.
Organizar um coletivo de formação, manter uma agenda de cursos, com metodologias que garantam a participação de todos, em todos os níveis, sem dogmatismos, sem preconceitos, sem patrulhamentos, sem arrogâncias pretensamente intelectuais, são tarefas da gestão sindical.
Analisar a conjuntura, discutir e conhecer as concepções sindicais em disputa hoje no movimento, conhecer a história de nossa classe, estudar as classes sociais, o Estado brasileiro, abordar as questões de gênero, sexualidade, juventude, aposentados, questões etnico-raciais, enfim. uma agenda plural, que não seja meramente decorativa, mas permanente, continuada, para fazer avançar nossa organização, na luta contra o capitalismo e seu Estado, a burguesia, e os inimigos dos trabalhadores.
Se muito conquistamos, é porque muito lutamos.Avançar depende da nossa união, solidariedade e construção coletiva. Se muito vale o já feito, mais vale o que será.

*Helder Molina é Licenciado e bacharel em História/UFF,
mestre em Educação/UFF,doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana/PPFH-UERJ, educador sindical,
professor da faculdade de Educação da UERJ

OS QUE LUTAM TODA VIDA, IMPRESCINDÍVEIS!

OS QUE LUTAM...

"Há aqueles que lutam um dia;
e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias;
e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos;
e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida;
esses são os imprescindíveis."

NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR

- 21 9769 4933, 21 2509 6333

NADA É IMPOSSÍVEL DE MUNDAR
(Bertold Brecht)

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.


PRIVATIZADO
(Bertold Brecht

" Privatizado"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O SINDICATO (adaptação de "O PARTIDO", de Brecht)

O SINDICATO É NOSSO INSTRUMENTO DE LUTA
O sindicato existe para defender os direitos dos trabalhadores. Nossos direitos são frutos de muitas lutas, e para garanti-los temos que ter um sindicato forte e de luta.
Por Helder Molina

O SINDICATO
(uma adaptação do poema "O PARTIDO" de Bertold Brecht (Helder Molina)

Mas quem é o sindicato? ele fica sentado em sua casa com telefone?
seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
quem é ele?
nós somos ele você, eu, vocês, nós todos.
Ele veste a sua roupa, companheiro, e pensa como a sua cabeça
onde moro é a casa dele,
e quando você é atacado ele luta
mostre-nos o caminho que devemos seguir e nós seguiremos com você.
mas não siga sem nós o caminho correto ele é sem nós, o mais errado
não se afaste de nós! podemos errar e você ter razão.
Portanto, não se afaste de nós!
que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega.
Mas quando alguém o conhece e não é capaz de mostra-lo a nós,
de que nos serve sua sabedoria?
seja sábio conosco! não se afaste de nós!
( Bertold Brecht)

Para que serve o sindicato? Porque ser sindicalizado? O que é o sindicato?

Mas, para que serve o sindicato? Porque ser sindicalizado?
O que é o sindicato?
por Helder Molina
(Historiador-UFF, mestre em Educação-UERJ,
doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana-UERJ,
educador e pesquisador sindical, assessor de formação da CUT-RJ e SINDPD-RJ)

1 - Hoje temos emprego, salário, previdência, plano de saúde, e tantos outros direitos garantidos. Milhões de trabalhadores não têm. Amanha, quem garante que não estaremos sem emprego, vivendo na informalidade, sem salário, sem renda, sem direitos, sem futuro? E pensando nisso que nos organizamos em sindicatos.

2 - Os direitos que os trabalhadores têm, hoje, são fruto de muitas lutas, vindas desde o século XIX. Duros combates e mobilizações para melhorar a vida dos trabalhadores se deram não só no Brasil (desde a escravidão), mas no mundo inteiro.

3 - A luta pela definição, e depois pela redução da jornada de trabalho, vem de 150 anos. Quando não havia sindicatos, nem direitos trabalhistas. Era o patrão quem decidia o preço da força de trabalho e a duração da jornada. Eram de 14 ou 16 horas diárias, e o trabalho das crianças e mulheres não remunerados.
4 - Só na década de 1920 os trabalhadores conquistaram a jornada de 8 horas diárias. E no Brasil foi em garantida na lei só em 1932. A vida “produtiva” de um trabalhador não passavam de 25 anos de trabalho. Viravam bagaços humanas nas engrenagens das fábricas.

4 - Só a partir de 1910 foram garantidos o descanso aos domingos e o direito a férias. E essas conquistas foram a custa de muitas greves, mobilizações de massas, sofrendo repressões violentas, torturas, prisões, desaparecimentos, mortes. Operárias queimadas vivas numa fábrica de Chicago são prova disso

4 - Os grandes banqueiros e empresários só acumulam lucros porque exploram os trabalhadores. Dinheiro não nasce em árvore, nem cai do céu. O lucro privado ou estatal é produto da exploração do trabalho e do trabalhar e da ausência de políticas sociais de distribuição da riqueza e dos benefícios gerados pelo trabalho humano, ou quando o Estado vira um comitê de negócios e interesses das classes que dominam a sociedade e monopolizam a economia

5 - O 13º salário foi conquistado após grandes greves, confrontos sangrentos, desde 1953, em São Paulo. E só foi reconhecido em lei em 1962, no governo Goulart, após uma década de lutas.
As leis de aposentadoria, contra acidentes de trabalho, da licença-maternidade, da periculosidade e insalubridades, fundo de garantia por tempo de serviço, todas, foram resultados de muitas lutas, sem nenhuma dádiva do Estado e dos patrões.

6 - Foram presos mais de cinco mil trabalhadores metalúrgicos, em greve, na frente do sindicato, em São Paulo. Para conquistar um direito que os trabalhadores já tinham na Europa, Japão e nos EUA, menos no Brasil. Questão social no Brasil sempre foi “caso de polícia”.
Nada veio por bondade dos patrões, dádiva do Estado, vontade de Deus, ou por “sorte” de alguns trabalhadores. Ao contrário, só a resistência, a organização, a luta, a mobilização coletiva, traz conquista e direitos.

7 - A empresa privada ou estatal, para implantar banco de horas tem, por força da Convenção Coletiva, negociada pelo sindicato, que se submeter às regras instituídas para proteger nossos direitos.

8 - Todo trabalhador tem direito de se sindicalizar, exercer sua cidadania sindical, opinar, discordar, propor, eleger e ser eleito, desde que participe ativamente da vida de seu sindicato.Quando sindicalizado, não precisa descontar a Contribuição Assistencial, que é decidida em Assembléia.

9 - Por força da Convenção Coletiva, negociada pelo sindicato, as horas extras de domingos e feriados não podem ser compensadas no Banco de Horas, isso é uma conquista de duras lutas e conflituosas negociações.

10 - Nunca é demais registrar: Do céu só cai chuva, sol e as benções da fé. Todos os direitos trabalhistas, direitos sociais, políticos, que temos hoje, foram conquistados através de muita lutas da organização sindical, dos movimentos sociais. Tudo é fruto de lutas. Se lutando já é difícil, sem luta é muito mais!

11 - O sindicato, ao cobrar Contribuição Assistencial dos trabalhadores dos trabahadores não sindicalizados, faz um ato de justiça, pois as despesas de uma campanha salarila são grandes, e os direitos e benefícios, quando conquistados e garantidos, são distribuídos a todos e todas, os que lutaram e os que não lutaram. Não é justo que só os sindicalizados se responsabilizem pelos custos. Os sindicalizados sustentam a entidade, sempre, antes e após as campanhas salariais.

12 - Por conseqüência desse ato, a Contribuição Assistencial visa garantir recursos para as despesas da campanha salarial, como cálculos e acompanhamentos estatísticos e sóci0-econômicos, assessoria jurídica, produção de boletins, viagens para negociações, materiais, jornais, publicações de editais

13 - O trabalhador sindicalizado tem direito garantido de assistência jurídica, seja individual ou coletivo, com advogados de direitos trabalhista, criminal e cível ( atendendo demandas administrativas e judiciais de condomínio, taxas, contratos, direitos lesados, defesa do consumidor)

14 - O trabalhador sindicalizado tem direito a descontos em diversas instituições de ensino, lazer, esporte, saúde e outras, com as quais o sindicato tem convênio, ter convênio não torna o sindicato "pelego", se ele priorizar a luta coletiva, a mobilização, a independência de classe, a formação política e a comunicação de classe. Veja no site do sindicato a lista de convênios, usufrua desse direito, se não tem faça sugestões, você é o sindicato!.

15 - Uma negociação salarial é longa, difícil, cansativa, com avanços e recuos, ainda mais em tempos de Crise. O sindicato negocia duramente para que você tenha reajustes sobre o salário, sobre o tíquete e todas as outras cláusulas que envolvem valores monetários.

16 - Tenha certeza que, se dependesse da empresa você receberia 0% de reajuste salarial e seus direitos seriam reduzidos e benefícios retirados. Só não nos atacam mais, porque lutamos coletivamente, e porque o sindicato luta com você.

17 - O sindicato pode negociar Acordos de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) com várias empresas e você pode se mobilizar e incluir sua empresa nessa relação. Só o sindicato pode negociar e assinar a PLR, pela CLT o sindicato tem o monopólio da negociação coletiva.
Abril de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

1o de Maio em Tempos de Crise!

1º de Maio em tempos de crise: Trabalhadores, uni-vos!

( Helder Molina)Historiador, professor de História, mestre em Educação-UFF, doutorando em Políticas Públicas-UERJ, educador sindical e assessor de formação da CUT/RJ e do SINDPD/RJ,
coordenador do curso Marxismo(s) da CUT/RJ e SISEJUFE-RJ

Os homens fazem a sua própria história, mas não o fazem como querem... a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. " [ Karl Marx ]
O 1º de maio é um dia de luta da classe trabalhadora, um dia de reflexão, mas também de rememoração. Por mais que as classes dominantes, e seus aparelhos de reprodução ideológica, como a mídia, tentem reduzir a data à lógica do mercado, de mais um “feriado” que, apesar de “atrapalhar a produção, as vendas, o consumo”, serve para buscar a construção do consenso de que o trabalhador é importante para “produzir o progresso da nação”, esse é um dia que pertence à história das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras.
Nesse dia, a mídia mostra o lado festivo, os governos tentam retirar a marca da radicalidade e do combate, domesticando-a, enquadrando-a em “comemorações do dia do trabalho”. Escondem a exploração, a opressão, e a dominação que se exercem sobre os trabalhadores.
O movimento sindical combativo, ao contrário de distribuir apartamentos e carros, oferecidos pelos empresários que, ao longo do ano exploram os trabalhadores, mantém acesa a memória das lutas do passado e o compromissos com as lutas do presente.
Em todos os lugares do mundo os trabalhadores se reúnem para protestar contras as derrotas, cantar as vitórias, fortalecer os laços de solidariedade, renovar o compromisso com a construção de um mundo sem explorados nem exploradores, e reafirmando a esperança de um futuro de justiça social e democracia plena.
Após 1850, na Europa e os EUA viviam o auge da Revolução Industrial, de expansão do modo de produção capitalista, sustentada na superexploração da força de trabalho das massas trabalhadoras. Crescia a cada ano a quantidade de camponeses e operários, incluindo as mulheres e crianças, que trabalhavam nas grandes fábricas, sem quaisquer leis ou regras de proteção aos trabalhos e ausência completa de direitos.
Os trabalhadores e as trabalhadores enfrentavam jornadas extensas e exaustivas de até 16 horas diárias de trabalho, péssimas condições de trabalho, em ambientes insalubres, respirando fumaça, pó, fuligem, às intempéries, ao frio, ao sol, na chuva.A consciência de classe se construiu no enfrentamento das contradições. Quanto mais se explorava, mais as contradições aumentavam. O capital, e seu sistema, o capitalista, na sanha desenfreada em busca dos lucros, exploram incessantemente os trabalhadores. Os lucros são produtos da expropriação do trabalho do trabalhador. Essa contradição só se descobre lutando, coletivamente. É na solidariedade da luta que se constróe os laços que rompem com a alienação. Como dizia Marx, os trabalhadores já tinham perdido tudo, só faltavam perder o medo, e romper os grilhões que os mantinham presos à exploração e à opressão capitalista.
Uma idéia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas." [ Karl Marx ]
O movimento operário é produto dessas contradições, e das lutas contra o capital. Impulsionado pelas idéias anarquistas, comunistas e socialistas, de diferentes colorações, os trabalhadores e as trabalhadores mobilizaram intensas jornadas de lutas, na Europa e nos EUA, organizando greves, associações operárias, sindicatos.
Pouco depois surgiram os primeiros partidos operários, e, em resposta ao chamado do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, de 1848, “proletários de todos os países, uni-vos”, ampliaram as lutas sociais para fora das fronteiras nacionais, constituindo um movimento operário e socialista de caráter internacionalista. Se o capital não tem fronteiras para explorar, os trabalhadores devem unir forças em todos os países, de todas as crenças, raças, países, ideologias. Uma necessidade concreta do enfrentamento ao capital, o movimento operário, na virada do século XIX para o XX, assume a bandeira do internacionalismo socialista e proletário.
Assim chega ao Brasil, no processo de transição da escravidão para o trabalho assalariado capitalista, e se organiza sob a bandeira do 1º de maio, com um marco da resistência e da luta mundial contra dominação capitalista.As lutas operárias se organizam e ganham dimensão política com a chegada dos imigrantes, e com a proliferação das ideologias anarquistas, anarco-sindicalistas, comunistas e socialistas.
Os imigrantes se juntam aos negros e negras, ex-excravos, excluídos do projeto elitista de República, que havia sido produzida por um golpe de Estado das oligarquias descontentes com a abolição da escravatura.Desse encontro de culturas e de lutas, surgem os sindicatos e o movimento sindical. Assim, o 1º de Maio é um momento de organização e de consciência de classe, de rememoração. De luta contra o capitalismo , de defesa da dignidade do trabalho e do trabalhador.
Como disse Antonio Gramsci (militante comunista italiano) “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem."Nesta conjuntura de crise mundial da economia e do modo de vida capitalista, reafirmamos a urgência de os trabalhadores construírem um outro projeto societário, baseado na solidariedade, na justiça distributiva da renda e na socialização das riquezas produzidas pelo trabalho humano.
O neoliberalismo, a face perversa produzida pelo capitalismo contemporâneo, está destruindo as forças produtivas, degradando a vida e os seres vivos. A lógica desse sistema é permanente destruição da natureza para obtenção de lucros, de exploração do trabalho humano para acumulação de riquezas e poderes nas mãos de uma minoria de sanguessugas, parasitas, que se alimentam do sangue, suor e lágrimas da maioria da humanidade.
Quando afirmamos que os trabalhadores não construíram a atual crise, e que não podem e nem devem pagar por ela, estamos dizendo que só a luta internacional, coletiva, por um outro modelo de desenvolvimento, de sociabilidade e de vida é que se constituirá na porta de saída para as maiorias de seres humanos que habitam o planeta.
E o sangue e a memória dos mártires, das mulheres, crianças, que nestes duzentos anos lutam contra a barbárie e pela emancipação, estão presentes, nas ruas, nas praças, alegres e irreverentes.
A utopia de um mundo justo, onde todos vivem plenamente do fruto de seu trabalho. A certeza de que a emancipação é uma obra coletiva, própria dos trabalhadores e trabalhadoras, por eles e elas, para eles e elas.


Helder Molina
Historiador, professor de História, mestre em Educação-UFF, doutorando em Políticas Públicas-UERJ, educador sindical e assessor de formação da CUT/RJ e do SINDPD/RJ,
coordenador do curso Marxismo(s) da CUT/RJ e SISEJUFE-RJ

1o de Maio em tempos de crise!