terça-feira, 21 de julho de 2015

CENÁRIO COMPLEXO, DE DESAFIOS À ESQUERDA SOCIAL E POLÍTICA, AOS SINDICATOS E MOVIMENTOS SOCIAIS, E À FORMAÇÃO SINDICAL:


Helder Molina
Historiador, mestre em Educação, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana, professor da Faculdade de Educação da UERJ, pesquisador e educador sindical

É a luta de classes! Mas viva do que nunca, e que se expressa pelo ódio e intolerância, contra informação, desinformação, calúnias, e a lavagem cerebral que a mídia (nas redes sociais, nas TVs, e nos jornais) faz cotidianamente contra os partidos de esquerda, o governo Dilma, e a CUT, os sindicatos, os movimentos sociais. E isso impregna até os dirigentes e militantes sindicais.
Tenho visto dirigentes combativos nas lutas específicas, fazem a análise de conjuntura com o mesmo discurso hegemônico da mídia, usam argumentos de nossos inimigos. Faltam informações elementares de História, Política, Economia, Poder, Luta de Classes, Ideologia, Poder, Papel da Mídia.
É preciso um trabalho de paciência, para ir desmontando as "verdades" que muitos dos nossos trazem, como suas, mas que são as dos nossos adversários à direita..
Como fazem falta os espaços permanentes e continuados de formação política, ideológica, e humana, nos movimentos sociais, sindicatos, e partidos de esquerda? Foi um crime contra a consciência dos trabalhadores esse pragmatismo que tomou conta do sindicatos e movimentos sociais.
Cresceu o conservadorismo e a despolitização entre os militantes. Perdeu-se a memória, a história, os processos, os fios, os laços. É preciso um trabalho de paciência, para ir desmontando as "verdades" que muitos dos nossos trazem, como suas, mas que são as dos nossos adversários à direita. Percebi a enorme falta que fazem os debates, leitura aprofundada, reuniões de núcleos, estudo crítico, formação ideológica, formação política sistemática, reflexão estratégica. Uma geleia geral na cabeça de nossos ativistas e militantes.

Sindicato, encruzilhadas, e atualidade da luta pelos direitos, democracia, justiça social e emancipação humana

Há um discurso recorrente de que existe uma crise identidade no movimento sindical. Se há uma crise? Precisa conceituar crise, para depois verificar se esse conceito, esse papel do sindicato está em crise, ou em mutação. Penso que o movimento sindical para por uma transição, que envolve burocratização, perda da sua identidade, de busca de novas referências, principalmente num mundo onde a informalidade cresce e o velho capitalismo assume novas faces e discursos, de reinado do mercado, do individualismo, da fragmentação, como diz Chico Oliveira, de indeterminação na política.
Assim analisando, o movimento sindical está numa encruzilhada, se dividiu, fragmentou, olha a existência de 7 centrais sindicais, da polarização e intolerância política crescente no interior das correntes, partidos de matrizes socialistas, enfim.
Minha identidade é o movimento sindical, onde tenho referência, militância política, atividade profissional. A década de 1990 em diante foi da ofensiva neoliberal no mundo do trabalho, da ofensiva do desemprego e da destruição dos direitos dos trabalhadores. Meu doutorado é dedicado a tentar entender essa mutação, esse novo sócio-metabolismo, essa nova identidade, e que foi perdida com o arrastão neoliberal

Mutação, fragmentação e encruzilhada

De um lado o esquerdismo se propõe como alternativa, e se isola, buscando sua identidade. Apresenta um discurso fácil, de condenação de todos, de recusa a qualquer coisa que pareça sensato, de combate intestinal aos aliados, agora considerados ex-aliados.De outro os setores neoliberais e o peleguismo reciclado, reinventado, também se constitui com cara própria, ou vários caras de uma mesma identidade.
Lutar também contra os hegemonismos, rediscutir eticamente a concepção de democracia, exercer na prática a tolerância, tão fundamental para desenvolver a unidade de classe, tudo isso, se não cuidamos, vai sendo esquecido, abandonado, e viramos burgueses, liberais e capitalistas na prática, embora afirmemos defender o socialismo e a democracia dos trabalhadores.
Essa crise está também no método e no discurso. Nosso discurso já não atrai os trabalhadores, suas direções precisam se renovar, suas práticas estão comprometidas por problemas éticos, e principalmente pela cooptação e adaptação à ideologia neoliberal, e as dificuldades entre ser movimento autônomo e independente e se relacionar com um governo que teve origem nas lutas sociais e dos trabalhadores brasileiros, dos últimos trinta anos

A importância estratégica da Formação Política,
Ideológica, e Humana
Nos sindicatos a formação deve servir de instrumento, ferramenta, para construir novas lideranças, novos militantes. Muitos trabalhadores e trabalhadoras conhecem o sindicato através das assembléias, das mobilizações, das negociações salariais, mas não entendem muito bem o que é o sindicato, de onde veio, para que serve, como se organiza. Muitos só buscam o sindicato na hora das dificuldades, não se sentem pertencentes ao sindicato.
Muitos desses trabalhadores, nas lutas, se aproximam e depois são convidados a ser dirigentes, e não sabem exatamente o que fazer na diretoria, que função desempenhar, como pode ajudar, e os dirigentes mais velhos podem ajudar na participação dos novos dirigentes, mas é papel da formação criar condições dele se formar, com cursos, oficinas, palestras, seminários, enfim.
A formação básica dos dirigentes e militantes sindicais, e os desafios do atual contexto. Novos e antigos dirigentes devem aprofundar o conhecimento sobre as transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho, as mudanças na economia e na política, o papel das novas tecnologia, a questão do desemprego estrutural, da informalidade que cresce, da violência como produto da desigualdade social e da concentração absurda de rendas que existe no mundo hoje, e no Brasil principalmente.
Devem buscar entender os problemas relacionados com a gestão dos sindicatos, da administração financeira, das relações com os funcionários, do cotidiano da máquina sindical.

Enfrentar a burocratização, cada dia mais presente
nos sindicatos.

A formação deve se preocupar com as questões das negociações coletivas, como negociar, fazer exercícios práticos de negociação, discutir as correlações de forças nas negociações, quando avançar, quando recuar, entender o cenário econômico, político, ver quem são nossos aliados, e adversários, nas campanhas salariais.

Enfrentar questões atuais da nossa sociedade e nos sindicatos

Não basta criar secretarias de mulheres e de negros ou anti racismo, a verdade é que o movimento sindical é machista, é racista, isso só se supera com combate político, enfrentando cotidianamente as manifestações, posturas, falas e gestos machistas ou preconceituosos nos sindicatos, nas assembléias, nos locais de trabalho.
Os cursos, encontros, seminários ajudam a problematizar, discutir e elaborar propostas, mas é preciso que isso se desdobre em outros espaços, como na empresa, na repartição pública, na escola, na família, nas relações informais, na comunidade. Os movimentos anti racistas, anti sexistas e feministas têm crescido em suas influências, muitos sindicatos já criaram secretarias específicas, nos coletivos de mulheres e anti racista sempre tiveram atuações afirmativas, e precisam ser fortalecidos.
Os sindicatos devem olhar isso como essencial para construir um projeto de sociedade emancipada, livre, solidária e que respeite a diversidade cultural.
Questões ambientais, da juventude, dos trabalhadores desempregados? Os sindicatos são muito corporativos
A consciência ambiental está crescendo nos movimentos sociais, as lutas pela preservação da água, da natureza, das praias, contra a poluição, os desmatamentos, e destruição da natureza, mas ainda é pouco. O capitalismo é o grande responsável pela destruição da vida, do ecossistema. O capitalismo sobrevive da produção de lucro, da exploração do trabalho humano e da natureza, e para isso ele destrói as forças produtivas. Ele é um destruidor de forças produtivas. Defender a natureza é combater o capitalismo, isso o movimento sindical está começando a compreender.

Desemprego e da informalidade dos jovens

Temos estudos do DIEESE, do IPEA, do IBGE, enfim, que mostram que mais de 50% da força de trabalho no Brasil estão na informalidade, são trabalhadores desempregados, precarizados, terceirizados, que sobrevivem sem proteção de leis trabalhistas, sem acesso à previdência social, sem garantia de futuro.
E os sindicatos ainda hoje só olham para os trabalhadores de carteira assinada, com emprego formal. Nossos sindicatos ainda estão presos ao passado fordista, isto é, ao mercado de trabalho da grandes corporações, de endereço determinado. Essa massa de trabalhadores estão buscando formas alternativas de viver e de se organizar políticamente, veja a multidão de camelôs, E a maioria dos desempregados são jovens, são mulheres, moram nas periferias, nas favelas, são exércitos de reserva do narcotráfico.
Os sindicatos precisam dialogar com a juventude trabalhadora, ouvir suas reivindicações, entender sua linguagem, que se expressam nas artes, na musica, nas manifestações culturais, no movimento estudantil, mas principalmente nos movimentos de rebeldia, presente nas comunidades, nas periferias, como Hip Hop, Funk, grafites, esportes.
Se os jovens não vêm ao sindicato é porque nossa prática e nossos discursos lhes são estranhos, corporativos, envelhecidos, burocratizados, carrancudos mesmo.
Eles vão buscar refúgio em outros lugares, como drogas, seitas evangélicas, torcidas organizadas, etc.
Basicamente abordarmos a Historia do movimento sindical, como surgiram os sindicatos, as centrais sindicais, as diferentes concepções sindicais de ontem e de hoje, a questão da gestão e do planejamento sindical, cursos de oratória e construção de discursos, negociação coletiva, o que é ser dirigente sindical,
E principalmente resgatar a historia do sindicalismo, que foi se perdendo, e as novas gerações desconhecem, parece que não temos passado, e vivem de um presentismo pragmático, corporativo, de negócios salariais e da defesa do emprego a qualquer custo. Abandonamos a luta pelo socialismo, nos conformamos com o capitalismo, e isso, a meu ver, será nossa morte. O sindicato deve lutar contra o capitalismo por uma outra sociedade, um outro Estado.
È possível resgatar? Ou é só desejo?

Reitero: Num programa de formação, deve existir palestras, debates, cursos, seminários, sobre os temas mais necessários, como a relação do movimento sindical com os governos, a questão da negociação coletiva, das tecnologias, meio ambiente, novas reconfigurações do mundo do trabalho, antiracismo, juventude, movimentos sociais, educação dos trabalhadores, a questão da previdência e dos direitos trabalhistas, saúde do trabalhador, assédio moral, etc.
Exibir filmes, fazer debates e formação utilizando o cinema, o vídeo. Precisamos montar um centro de memória dos sindicatos, a memória sindical está espalhada nos sindicatos, nos arquivos “mortos”, nos depósitos, nos armários, nas caixas, nas casas dos militantes, nos arquivos de ex-dirigentes, enfim. A memória dos sindicatos, com raríssimas exceções, estão amontadas em gavetas, armários, arquivos, quanto muito. Ou nas casas dos militantes e dirigentes, os que guardam vestígios, porque a maioria joga fora. E verdade, lutamos contra a mídia, os empresários, os fazendeiros, os banqueiros, os patrões públicos e privados, é verdade. Mas também lutamos contra nossa preguiça e acomodação, nosso corporativismo que acha que o sindicato basta por si mesmo, que só vive para fazer campanha salarial, e olhe lá.