segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quem sustenta os Civita?

Quem sustenta os Civita?


A hipocrisia e o civismo são características latentes dos grandes aglomerados didáticos. Apesar de defensores árduos do estado neo – liberal do modelo privatizante e da economia de mercado, ainda assim vivem das benesses do estado burguês, através das campanhas publicitárias, caso contrário, já estariam...

Para nós, enquanto estudiosos e cultivadores do hábito da boa leitura, não é nenhuma novidade o papel, que as grandes corporações midiáticas exercem na sociedade contemporânea em especial o áudio visual, muito fruto dos imensuráveis recursos tecnológicos da segunda metade do século XX, na qual possibilitou transmitir as suas programações em larga escala, propagando os seus sinais nas regiões mais remotas do país. Considerando o Brasil, com sua grande extensão territorial, os efeitos desta presença foram facilmente perceptíveis e, ao longo do tempo, tornaram-se drásticas, à medida que o hábito pela leitura no seio de nossa sociedade ainda é pouco difundido e praticado.
Ainda assim, a mídia impressa cumpre um papel fundamental que, aliado ao áudio visual e as rádios difusão, são instrumentos de suma relevância na perpetuação das relações de poder numa sociedade divida em classes sociais.
O fato de que o costume pela leitura não tenha sido propagado, gerou dados estarrecedores que foram divulgados pelo censo do IBGE (2010), onde aponta 1/3 da população brasileira são constituídos de analfabetos e semianalfabetos, em números redondos – 16 milhões de analfabetos e 50 milhões de semianalfabetos - isso sem contar com os analfabetos funcionais que aumentaria drasticamente esses dados percentuais. Ilustra-se, portanto, uma política que foi, amplamente difundida ao longo de mais de 5 séculos de opressão e que possibilitou forjar uma mentalidade aristocrática colonial.
Contudo, não irei me ater a este aspecto no texto, pois não é o objetivo central destas linhas. Já que escrevo ao conjunto dos leitores com o intuito de socializar as minhas inquietações, tal o meu espanto perante as cretinices que o Grupo Abril difunde em suas publicações.
DOS CONCEITOS BE BÁSICOS
Bourdier em sua obra explora dois aspectos fundamentais para a perpetuação do estado burguês – ou seja – dois momentos chaves para consolidar as relações de poder por parte da burguesia.
O primeiro é o aparato ideológico de estado que desempenha um papel central, para o capital, domesticando e engessando o pensamento, tolindo a crítica e a reflexão, doutrinando o comportamento. Instituições como: família, escola, igreja e os meios de comunicação, tornaram-se essenciais na consolidação dos valores, hábitos e costumes burgueses.
No segundo momento, quando as estruturas ideológicas não cumprem o seu papel manipulador, entra o aparato repressivo de Estado, através de suas estruturas totalitárias (policias, guardas municipais, forças armadas e as seguranças privada). Além dos órgãos paramilitares com financiamento estatal, tais como os jagunços, pistoleiros, milicianos, entre outros, que tem como mote central estabelecer a ordem, se impondo, através da força bruta e repressiva, constituindo massacres, extermínios seletivos e torturas. Métodos estes que consolidaram a limpeza étnica no Brasil.
Foi em cima destes fatos que se constituiu o Estado brasileiro, que traz em seus genes heranças coloniais que no decorrer de nossa história nos deixou, e ainda deixa, inúmeras sequelas.

UM BREVE HISTÓRICO DAS CALOROSAS RELAÇÕES ENTRE A MÍDIA E O ESTADO BURGUÊS
As afetuosas e íntimas relações entre o estado burguês e a mídia não é nenhuma novidade tal o caráter estratégico que os meios de comunicação exercem. Sendo considerado por muitos estudiosos o principal veículo de formação na sociedade moderna. Que sendo assim, constitui-se em estruturas mafiosas (famílias) que controlam o acesso à informação e ao conhecimento produzido no Brasil. As relações promíscuas entre as famílias (os Marinho, Saad , Frias,Mesquita, Civittas, entre outros) e o Estado não advém de agora. As relações do governo Getúlio com as rádios difusoras propiciaram uma ampla campanha de sua política. No entanto é no golpe de 64 que tomam contornos bem definidos, onde a mídia se alinha ao projeto fascista implementado pelos militares em conluio com setores civis (empresariado) e financeiros. Desta cumplicidade, resulta o silêncio perante as atrocidades cometidas nos porões da ditadura e que em detrimento deste apoio, foram distribuídos inúmeras benesses, tais como: isenção de impostos, a ausência de uma legislação que regulamente o papel da mídia, a falta de critérios na distribuição de concessões, onde todos os agrados foram concedidos pelo Estado militarizado.

OS CIVITAS E OS SEUS PANFLETOS
É neste contexto que está inserido os Civitas, proprietários do grupo Abril, que tem uma parcela considerável de influência perante as estruturas mafiosas. Sendo a sua principal publicação a revista Veja que vai às bancas semanalmente tornando-se a principal leitura da elite colonizada.
Ainda que arvorem-se em pregoar a redução do papel do estado, vivem surrupiando os cofres públicos, pois se não fossem as verbas e subsídios da publicidade oficial, as revistas da Abril iriam à falência.
A partir de uma analise crítica no Portal da Transparência, verifica-se que nos últimos 5 anos o Ministério da Educação repassou ao Grupo Abril a quantia de R$719.630.139,55 na compra de livros didáticos, sendo o maior repasse de recursos destinados a grupos editoriais do país.
Para além da hipocrisia e do cinismo dos Civita, as formulações contidas em suas páginas são frágeis, falta um arcabouço teórico-científico, pois seus colunistas vivenciam o “achismo” e superficialidade, tornando as parcas produções textuais frágeis, repleta de dogmas e preconceitos. A ausência de uma produção mais elaborada torna a revista um grande panfleto frágil e carente de uma elaboração mais aprofundada.
O seu caráter panfletário é sustentado e financiado por recursos públicos, pois somente do Ministério da Educação e Cultura (MEC), desde 2004 o Grupo da Veja, ficou com mais de 1/5 dos recursos do MEC (22,45%) destinados à compra de livros didáticos, de caráter questionável. As relações promíscuas com o Estado não se estendem somente no âmbito do governo federal, pois o governo paulista, assinou um contrato na compra de 220 mil assinaturas da revista Nova Escola, número este que represente quase 25% da tiragem total da revista Nova Escola. A aquisição destes 220 mil exemplares, rendeu R$3,7 milhões aos cofres do Grupo Civita.
Os privilégios não se restringem ao José Serra – eterno candidato à presidência da República – que apresentou proposta curricular que obriga a inclusão no ensino médio de aulas baseadas nas edições encalhadas do “Guia do Estudante” cujo material é de péssima qualidade, pautado na “decoreba” na reprodução, sem nenhuma reflexão crítica. Inicialmente estes acordos geraram cerca de R$10 milhões de recursos públicos destinados a esta Instituição, contando somente o segundo semestre de 2008.
A gestão de José serra, também premiou outras estruturas mafiosas, através do Diário Oficial, concedeu aos Frias (Folha de São Paulo) a compra de 5449 assinaturas, valor deste agrado de R$ 2.704.883,60. Outra família agraciada foi os Mesquitas (O Estado de São Paulo) jornal das oligarquias, que trouxe aos seus cofres o valor de R$2.691.806,00 na compra de mais de 5 mil exemplares. Os Marinho (Grupo O Globo) não poderiam ficar de fora da farra do dinheiro público vendendo mais de 5 mil panfletos ( Revista Época) totalizando o valor de R$ 1.190.061,60.
É notório que os Civitas gozam de estreitos laços na democracia representativa, e, é a partir dessas relações que as suas publicações panfletárias, repleto de dogmas, tomaram conta das escolas públicas, sem que se queira houvesse licitações para aquisição destes materiais de péssima qualidade, tal as divagações neles presentes. Não obstante disso, exercem pressões contra as mídias alternativas, cobrando do Estado burguês uma legislação mais rígida, que tem como único intuito reprimir todos e quaisquer setores que não compartilhe da leitura única da mídia burguesa.
Por fim, o grupo Abril, encabeçado pelo patriarca Vitor Civita estão á frente da UnaAmerica, um conluio com demais setores do empresariado, semeando instabilidade política e forjando golpe de estado em toda região. São os pilares do fascismo moderno, do conservadorismo. É o que temos hoje de mais atrasado e reacionário. Sendo assim, recorrer desses materiais para compreender as relações que nos cercam é comungar com o que temos de pior para ler, transformando-nos em bestas humanas, enquanto meros repetidores.
É neste contexto que as corporações mafiosas ousam falar em corrupção, enquanto os bastiões da moralidade do comportamento austero. Entretanto escamoteiam as estreitas ligações com o Estado Burguês que financia suas publicações panfletárias desperdiçando o dinheiro público. Pois se não houvesse o financiamento através de gordas campanhas publicitárias ou na compra de materiais didáticos de péssima qualidade, estas máfias, já estariam falidas e enterradas há muito tempo, para a felicidade de todos nós amantes da boa leitura.


José Roberto Magalhães
Estudante e pesquisador em educação (UERJ)