PRÓXIMOS CURSOS DE FORMAÇÃO POLÍTICA, E PLANEJAMENTO QUE ESTAREI MINISTRANDO.
Um abraço a todos, Helder Molina
- 16 e 17 de Julho - Quinta e sexta
Curso de Formação para Dirigentes e Delegados Sindicais do SINDSEP-DF
(Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal - Brasília-DF.
- 23 e 24 de julho - Quinta e sexta
Curso de Discurso, Linguagem e Oratória Sindical
Para dirigentes e militantes sindicais
((Associãção dos Servidores da Universidade de Viçosa - Minas Gerais - ASAV)
- 08 e 09 de agosto - Sábado e domingo
Curso sobre Estado, Serviço Público e Sindicalismo no Brasil - Módulo 1
(Sindicato dos Servidores Federais de Mato Grosso - Em Cuiabá-MT. SINDSEP-MT )
-20 de Agosto - Quinta
Participação como debatedor na mesa de CONJUNTURA NACIONAL E INTERNACIONAL
no Congresso do Sindicato dos Trabalhodres no Serviço Público Federal do Ceará - SINTSEF-CE, Em Fortaleza_CE.
21 e 22 de Agosto - Segunda e Terça
Curso de Formação Básica sobre Concepção, Estrutura e Gestão Sindical
(Dederação dos Sindicatos de Servidores Municipais do Estado do Ceará - FETAMCE - Em Fortaleza-CE.
25 e 25 de agosto - Terça e Quarta
Planejamento Estratégico da nova direção da CUT-CEARÁ. Em Fortaleza-CE
Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ); Mestre em Educação (UFF); Licenciado e Bacharel em História (UFF). Trabalho com Assessoria Sindical; Formação Política; Produção de Conteúdos; Planejamento; Gestão; Elaboração e Produção de Cadernos de Formação, Apostilas, Conteúdos Didáticos; Produção e Execução de Cursos, Seminários, Palestras, Aulas, Oficinas; Produção de Projetos Sindicais, professorheldermolina@gmail.com - 21 997694933,Facebook: Helder Molina Molina
sexta-feira, 10 de julho de 2009
BILHETE PRÁ UM OPERÁRIO
Amigos e amigas, companheiros e companheiras: Um bom final de semana a todos e todas. E, para pensar, uma linda crônica de Lorenço Diaféria, um combatente na luta contra a ditadura militar no Brasil.Eu tenho usado este poema nos meus cursos de formação política e sindical, pelo Brasil afora... Helder Molina (ah..tem novidades no meu blog
"http://heldermolina.blogspot.com"
Bilhete prá um operário
Por Lourenço Diaféria
Pegaram um dia um operário e disseram-lhe:Senta-te no banco dos réus.És acusado de haveres nascido com sonhos na cabeça. És acusado de teres os cabelos encaracolados. És acusado de teres bigodes vastos, negros, provocativos.És acusado de teres alguns pedaços de dedos a menos que o comum dos mortais, podados pelas engrenagens das máquinas.És acusado de ficares pelas esquinas conversando em voz baixa com amigos enquanto a luz dos postes te ilumina o suor do rosto. És acusado de terem te visto no bar dando gargalhadas.És acusado de tua casa ter um pequeno jardim com grama e flores.És acusado de conheceres a sinfonia das sirenes das fábricas anunciando a aurora do primeiro turno. És acusado de seres reconhecido na portaria e todos te cumprimentarem, e te baterem levemente nas costas com alegria, e te dizerem: olá, meu chapa.És acusado de inventares um partido que não é o único, mas não se confunde com siglas e teorias de alfarrábios envelhecidos.És acusado de fazeres discursos de improviso com vigor e garra que nascem do fundo das vísceras do espírito.És acusado de não seres magro nem raquítico como teus irmãos deviam ser.És acusado de jogares baralho e dares dores de cabeça aos homens sérios deste país. És acusado de usares gravata em vez de macacão, vestindo-te com roupas só permissíveis no enterro do melhor amigo. És acusado de freqüentar reuniões e discutires com sábios e iluminados sem pedir licença nem apresentar diploma. És acusado de te haverem visto com ministros, criaturas importantes, e não te ocorrer submeter-se a elas.És acusado de não teres te colocado no lugar cavado para o oprimido.És acusado de haveres gritado com toda a força de teus pulmões fuliginosos.És acusado de teres filhos bonitos e uma mulher doce, que devia ser feia e talhada a foice.És acusado de não seres rapaz comportado, meigo, gentil, acetinado.És acusado de conheceres a prensa, e não te afugentar o ronco que ela faz na madrugada.És acusado de quereres a pátria livre, e livre, também, o coração e os sentimentos do homem.És acusado de rezares e de pôr a boca no trombone quando todos se calam e descrêem de Deus edos homens.És acusado de teres o desplante de ser líder num país desnaturado onde quem levanta a fronte é triturado.És acusado de haveres perdido a paciência de esperar pelo futuro que não chega nunca.És acusado de usares sapatos 42, de couro, quando o normal é sandália havaiana.És acusado de romperes as cadeias invisíveis que amarram teus braços peludos e tuas mãos penadas.És acusado de atraíres os operários com tua voz, teu berro, teu silêncio, teu olhar, tua dor, tua ânsia, teu mistério, e saberes contar, sorrindo, tristes histórias recolhidas em barracos e cômodos-e-cozinhas.És acusado de estares em pé, quando devias estar de bruços, de borco, exangue e vencido.És acusado de não seres o que queriam que tu fosses.Meu caro operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe este recado:Se existir mesmo essa senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, confia nela.Não creio que essa matrona seja cega.
* Texto de Lourenço Diaféria , publicado no Jornal Folha de São Paulo, no dia 15/09/80.
"http://heldermolina.blogspot.com"
Bilhete prá um operário
Por Lourenço Diaféria
Pegaram um dia um operário e disseram-lhe:Senta-te no banco dos réus.És acusado de haveres nascido com sonhos na cabeça. És acusado de teres os cabelos encaracolados. És acusado de teres bigodes vastos, negros, provocativos.És acusado de teres alguns pedaços de dedos a menos que o comum dos mortais, podados pelas engrenagens das máquinas.És acusado de ficares pelas esquinas conversando em voz baixa com amigos enquanto a luz dos postes te ilumina o suor do rosto. És acusado de terem te visto no bar dando gargalhadas.És acusado de tua casa ter um pequeno jardim com grama e flores.És acusado de conheceres a sinfonia das sirenes das fábricas anunciando a aurora do primeiro turno. És acusado de seres reconhecido na portaria e todos te cumprimentarem, e te baterem levemente nas costas com alegria, e te dizerem: olá, meu chapa.És acusado de inventares um partido que não é o único, mas não se confunde com siglas e teorias de alfarrábios envelhecidos.És acusado de fazeres discursos de improviso com vigor e garra que nascem do fundo das vísceras do espírito.És acusado de não seres magro nem raquítico como teus irmãos deviam ser.És acusado de jogares baralho e dares dores de cabeça aos homens sérios deste país. És acusado de usares gravata em vez de macacão, vestindo-te com roupas só permissíveis no enterro do melhor amigo. És acusado de freqüentar reuniões e discutires com sábios e iluminados sem pedir licença nem apresentar diploma. És acusado de te haverem visto com ministros, criaturas importantes, e não te ocorrer submeter-se a elas.És acusado de não teres te colocado no lugar cavado para o oprimido.És acusado de haveres gritado com toda a força de teus pulmões fuliginosos.És acusado de teres filhos bonitos e uma mulher doce, que devia ser feia e talhada a foice.És acusado de não seres rapaz comportado, meigo, gentil, acetinado.És acusado de conheceres a prensa, e não te afugentar o ronco que ela faz na madrugada.És acusado de quereres a pátria livre, e livre, também, o coração e os sentimentos do homem.És acusado de rezares e de pôr a boca no trombone quando todos se calam e descrêem de Deus edos homens.És acusado de teres o desplante de ser líder num país desnaturado onde quem levanta a fronte é triturado.És acusado de haveres perdido a paciência de esperar pelo futuro que não chega nunca.És acusado de usares sapatos 42, de couro, quando o normal é sandália havaiana.És acusado de romperes as cadeias invisíveis que amarram teus braços peludos e tuas mãos penadas.És acusado de atraíres os operários com tua voz, teu berro, teu silêncio, teu olhar, tua dor, tua ânsia, teu mistério, e saberes contar, sorrindo, tristes histórias recolhidas em barracos e cômodos-e-cozinhas.És acusado de estares em pé, quando devias estar de bruços, de borco, exangue e vencido.És acusado de não seres o que queriam que tu fosses.Meu caro operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe este recado:Se existir mesmo essa senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, confia nela.Não creio que essa matrona seja cega.
* Texto de Lourenço Diaféria , publicado no Jornal Folha de São Paulo, no dia 15/09/80.
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