domingo, 24 de fevereiro de 2013

AS ARMADILHAS DA TEORIA DO CAPITAL HUMANO E DA EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO.



AS NOVAS EXIGÊNCIAS EDUCACIONAIS
NO CAPITALISMO MUNDIALIZADO:

O PROFISSIONAL DE PEDAGOGIA E AS ARMADILHAS DA TEORIA DO CAPITAL HUMANO E DA EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO.
Helder Molina (*)

Historicamente o lugar de atuação do profissional de pedagogia é a escola. Na antiguidade este lugar de atuação ainda não era tão definido. Na Idade Média escola era sinônimo de Igreja. Nos Tempos Modernos, o pedagogo se dedica ao magistério.
Contemporaneamente o pedagogo se ocupa, alem do magistério, da supervisão, orientação e administração escolar.
O termo “pedagogia”, se origina na “paidéia” grega antiga. Os “´paedagogos” são os responsáveis pela tarefa de educar. No pensamento educacional grego “paedéia” era “cuidar dos meninos”. Educar as crianças nos valores, costumes, tradições, manutenção da cultura da sociedade grega.
Na idade média (400 – 1400 d.c), Igreja (católica) exerce o monopólio do saber. O convento, a paróquia, o espaço clerical é sinônimo de escola. Os clérigos são os pedagogos.
Com o Renascimento ocorre uma valorização da cidade, das artes, da técnica, e ampliação da vida pública.
Na Idade Moderna, com as idéias iluministas, do racionalismo como superação da metafísica e do domínio religioso sobre o pensar, começa um processo de separação entre a Igreja e o Estado. O desenvolvimento da ciência e da técnica tem seu nas revoluções burguesas (com ênfase na revoluções industrial e francesa (1700-1800).
A Escola se torna “laica”, (desvencilhada da Igreja (clero) e da religião oficial do Estado Moderno – A católica) e se torna tarefa do Estado e da sociedade. A declaração universal dos direitos humanos exerce papel decisivo nessa transição.
Na escola burguesa moderna, o pedagogo passa a ser o responsável pela condução do processo pedagógico – que envolve o magistério, o acompanhamento dos alunos e aprendizes, a administração material, o planejamento e a direção da instituição escolar.
No século XX, particularmente no Brasil, o profissional de Pedagogia se ocupará do magistério na educação básica (antigo primário e ginásio) das assessoria a instituições e lentamente vai ocupando espaços nos movimentos de educação de base e popular, nas campanhas de alfabetização, e nos projetos e lutas sociais pelo ampliação do acesso à educação enquanto direito social.
Na metade do século XX (anos Vargas e pós Vargas – anos 40/50) com o processo de industrialização e urbanização, surge uma exigência do próprio capitalismo em ampliar o acesso das populações pobre à educação básica, e a necessidade de “qualificar a mão de obra”, para o mercado de trabalho industrial e urbano (indústrias, comércio e serviços. Com o mercado capitalista em expansão, a teoria do capital humano toma força. O processo educativo é conduzido pelo Estado e pelos empresários.

A EDUCAÇÃO HUMANA SOB O IMPÉRIO DA MERCADORIA

Na década de 1990, quando as políticas neoliberais tomam corpo no mundo todo, de diminuição dos espaços públicos, privatizações da políticas sociais, mudanças na função do Estado, desemprego estrutural em função das novas tecnologias e da reestruturação das empresas, a educação assume o papel de “salvação para o excluídos”. Como diz a campanha dos “Amigos da Escola” , da Fundação Roberto Marinho: “Educação é tudo”. Será?

O empresariado e o “mercado” transferem a responsabilidade pela baixa qualificação técnica e escolarização formal aos próprios trabalhadores, e produz a ideologia da “empregabilidade” que transfere ao trabalhador a responsabilidade pela sua própria educação e qualificação profissional.

Na década de 1980, pós ditadura militar, os movimentos sociais crescem em importância, com o aumento do espaço público, das mobilizações populares, da retomada do sindicalismo, das organizações de mulheres, negros(as), sem terras, sem tetos, direitos da infância e adolescência, ecologia e defesa do meio ambiente, a questão da educação, emprego, qualificação profissional, cidadania e direitos sociais se tornam reivindicações de políticas públicas ao Estado.

Na década de 1990 os sindicatos assumem, também para si, a responsabilidade com a educação dos trabalhadores, formulando projetos de educação, desenvolvendo metodologias, disputando concepções de currículo, enfrentando as questões ideológicas e políticas presentes na educação dos trabalhadores. Até então isto era responsabilidade do Estado (capitalista) e do empresariado (através do sistema S – Sesi, Senai, Sesc, Senac,Sest, Senat).

Temos experiências de educação de trabalhadores desenvolvidas na CUT (Programa Integração, Projetos Integras, Semear), no MST, na CONTAG (trabalhadores na agricultura). Projetos marcados por avanços conceituais e propostas pedagógicas com a visão do mundo do trabalho, mas também com contradições e sob o risco de se reproduzir a ideologia da empregabilidade e da teoria do capital humano. Financiadas por fundo público Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT).

Muitas empresas assumem políticas de formação profissional de seus trabalhadores, desenvolvendo projetos de qualificação, quase sempre financiados com recursos públicos (do FAT). Cresceu também o discurso da “ Responsabilidade Social” da “Empresa Cidadã ” e projetos de “ inclusão social” . Estratégias de marketing social, para conquistar mercado consumidor, aumentar a concorrência e...lógico! Descontar no Imposto de Renda.
A qualificação empresarial se constitui uma verdadeira pedagogia do capital, marcada pelo adestramento profissional, domesticação ideológica, produtividade, competitividade entre os trabalhadores e entre as empresas, lucratividade do capital, cidadania como sinônimo de consumidor. Cresce a cada dia o número de empresas que constroem centros de formação profissional, universidades corporativas, escolas de aprendizagem, oficinas e cursos temporários ou permanentes de qualificação e requalificação da força de trabalho.
As políticas de recursos humanos agora têm uma preocupação ideológica e política de formar um trabalhador adornado de uma lógica produtivista para a empresa, e que venha se tornar “colaborador”, “ parceiro” do empresário e da reprodução do capital e da exploração do trabalho.
Nos movimentos sociais cresce a importância dos processos educativos, do caráter pedagógico das lutas e mobilizações. A educação é produzida nas relações sociais, na produção, nas lutas por direitos, na vida em sociedade, na organização dos excluídos. E escola é um dos espaços, não mais o único.
Nesses espaços estão inseridos os pedagogos e outros profissionais, a educação é multidisciplinar, e se experimenta a interdisciplinariedade. A pedagogia (e seus profisisonais) podem atuar como formuladores de projetos, elaboradores de propostas curriculares, supervisores de programas, educadores, gestores sociais, planejadores, executores e avaliadores, na qualificação profissional, educação política e social, técnica e humana.

Helder Molina - Abril de 2007
Historiador, mestre em Educação (UFF),professor da faculdade de Educação da UERJ.
Atou como educador, assessor e coordenador em vários projetos de educação de trabalhadores, em sindicatos (CUT) e movimentos sociais.Produziu dissertação de

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