terça-feira, 1 de março de 2011

As metamorfoses do capitalismo contemporâneo, o fazer político e o sujeito histórico CUT

As metamorfoses do capitalismo contemporâneo,
o fazer político
e o sujeito histórico CUT

Helder Molina (*)

“Nós somos o que fazemos, e sobretudo aquilo que fazemos para mudar o que somos: Nossa identidade reside na ação e na luta. Por isso, a revelação do que somos implica a denúncia daquilo que nos impede de ser o que podemos ser.” (Eduardo Galeano)
Somos sujeitos históricos, a construção de nossa consciência é resultado de processos sociais e interações culturais. Produzimos e somos produzidos historicamente. Sabemos, a história é produto das contradições sociais, econômicas, políticas e culturais inseridas na vida material.
Portanto, a escolha de um objeto de estudo é resultado de fatores objetivos, colocados pelas necessidades, interesses e demandas acadêmicas e profissionais, mas sobretudo, pelas motivações subjetivas, construídas a partir das experiências vividas e das tomadas de posições ético-políticos diante da realidade que nos cerca.
Um estudo acadêmico, a nosso ver, deve contribuir para transformar concretamente as condições de vida dos trabalhadores – que com sua força de trabalho produzem as riquezas e valores que permitem a existência de uma universidade pública. Nossa pesquisa procurará somar esforços para a luta emancipatória da classe trabalhadora.
Na nossa trajetória, como na história da classe trabalhadora, nas diversas derrotas e fracassos e nas outras tantas vitórias, sempre esteve presente, embora muitas vezes inconsciente, a advertência de Marx,
“Os homens fazem sua própria, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.
E justamente quando parecem empenhadas em revolucionar-se a sí e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada. (Karl Marx, O 18 Brumário de Luis Bonaparte, apud Jacob Gorender, 1988,70).
Essa trajetória ético-política implica na construção deste projeto, que nasce de nossa trajetória de vida, cuja identidade é o movimento sindical, onde tenho referência, militância política, atividade profissional. Meu estudo de mestrado foi sobre os projetos e concepções de educação desenvolvidos pela CUT na década de 1990, década da ofensiva neoliberal no mundo do trabalho, da ofensiva do desemprego e da destruição dos direitos dos trabalhadores.
Trabalho com formação política há mais de 15 anos, no movimento sindical e em movimentos sociais, e em projetos de educação de jovens e adultos trabalhadores, em sindicatos e nos projetos da CUT nacional. Desenvolvo assessorias e consultorias de formação e planejamento
Diferentes análises abordam a crise, ou da perda, de identidade do sindicalismo. A ofensiva neoliberal nos anos 90 e sua lógica destrutiva produziu profundos e extensos estragos nas economias, nas sociedades e principalmente nos movimentos sociais organizados no Brasil e no mundo. Dentre estes, os sindicatos sofreram profundas derrotas. O campo combativo e classista que se forjou na década de 1980.
A CUT não ficou imune a essa ofensiva. A maioria de suas lideranças ficou dividida entre a perplexidade, a resistência fragmentada e a adesão propositiva a alguns pressupostos da nova ideologia
A fundação da CUT Brasil foi produto histórico da luta organizada de um múltiplo e diversificado leque de forças sociais e políticas que resultou num amplo movimento de contestação e combate ao regime militar, suas doutrinas e práticas violentas e autoritárias e pelo resgate do Estado democrático de direito.
A existência da CUT significou, no campo sindical, um rompimento concreto com os limites da estrutura sindical oficial corporativa, e um profundo avanço dos trabalhadores na conquista de direitos humanos, civis e sociais.
Um dos principais obstáculos à consolidação das políticas neoliberais do grande capital internacionalizado no Brasil foi, sem dúvida alguma, a resistência dos trabalhadores, especialmente os setores mais organizados e combativos, com experiências acumuladas de lutas, reunidos em torno da CUT.
Para as classes dominantes, era urgente construir uma ferramenta que fosse instrumento de disputa de hegemonia dentro do próprio mundo do trabalho. Não bastava só atacar os sindicatos e as organizações populares, era necessário disputar no próprio campo.
Diante das metamorfoses contemporâneas do capitalismo complexidade coloca aos sindicatos e à CUT um conjunto de exigências políticas imediatas, propriamente sindicais, combinadas com políticas de cunho estratégico, de macro alcances sócio-econômicos e político-culturais, com relevância e urgência.
As tarefas políticas dessa agenda envolve uma rede de temas, como a organização dos trabalhadores por locais de trabalho, um novo padrão de negociação e contratação coletiva, a constituição da verticalidade da CUT por ramos produtivos e a horizontalidade por temáticas relacionadas ao mundo do trabalho, sociedade e desenvolvimento econômico, social e cultural, tais como a reforma agrária, as reforma tributária e fiscal, políticas sociais concretas e abrangentes no sentido de ampliar o acesso ao saneamento ambiental, saúde, educação, habitação, segurança pública e seguridade social.
Janeiro de 2011
(*) Helder Molina é doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana, no Programa de Políticas Publicas e Formação Humana, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; mestre em Educação, pela Universidade Federal Fluminense; historiador, pesquisador e educador sindical.

Nenhum comentário: