terça-feira, 21 de abril de 2009

A PEDAGOGIA DA LUTA - A PRÁXIS NOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Pedagogia da Luta

Helder Molina

Historiador e mestre em Educação - uff
Doutorando em Políticas Públicas e formação Humana - uerj
Educador sindical
Assessor de Formação da CUT/RJ e do SINDPD/RJ

Aprender e ensinar, ler e escrever, são atos de prazer.
Aprendí com Paulo Freire, Thiago de Mello e Carlos Drummond Andrade.
Gosto de escrever cartas a quem ousa ensinar e aprender, como diz Paulo Freire.
Neste deserto social em que vivemos, ávidos de esperança, nosso desafio é resgatar uma pedagogia que seja ousadia. Pedagogia da ousadia
Uma pedagogia, um fazer educativo que seja como água fresca que faça irrigar esta aridêz opressora que assola o mundo. Fazer brotar esperança, coragem que fertilizem nosso fazer histórico.
Estive relendo as CARTAS DE QUEM OUSA ENSINAR, de Paulo Freire. Com certa nostalgia relí algumas de suas reflexões. Singelas, estimulantes, provocativas, convoca-nos ao compromisso. Quase sempre um convite a continuar resistindo e lutando.
O poeta Thiago de Mello, nos seus versos, afirma “ FAZ ESCURO MAS EU CANTO, PORQUE O AMANHA VAI CHEGAR”. E é esse amanha, desenhado no horizonte, que nos move a caminhar. Eduardo Galeano enxerga nesse amanha uma utopia andarilha.
Nós, parceiros dos oprimidos, educadores de um povo sofrido, professores de jovens e adultos que insistem em não perder dos olhos o brilho da esperança por mundo melhor, cada dia mais distante.
Nós, que aprendemos a esperar caminhando.
Caminhantes de causas coletivas, aprendemos que educar é semear.
Somos plantadores de sementes, mesmo em terras endurecidas pelas brutas estruturas das relações na sociedade atual.
Educar deveria ser um ato de denúncia das estruturas injustas, de combate pela igualdade e pelos direitos, de revolucionar a vida e os costumes, de libertação dos indivíduos de obscurantismo cultural e da cegueira políticas, da luta pela cidadania, da construção da consciência crítica, da conquista da autonomia , enfim, da fraternidade e da solidariedade.
Temos que ler a palavra tendo a dimensão de que, por ela, buscamos ler e interpretar o mundo. Somos aprendizes numa sociedade que construiu enormes correntes que prendem os indivíduos a uma relação fragmentada e parcializada com os outros e consigo mesmo.
Um sociedade onde os valores são marcados pelo individualismo, a alienação, a ignorância política, o analfabetismo social.
Nossas palavras, nossas práticas, nossos exemplos devem servir para animar os que estão ao nosso redor, e convidá-los a se inquietar diante da indiferença, e a criar coragem diante do desconhecido, de desvendar o que nos parece complexo.
Ser professor, hoje, na sala de aula, na relação com os alunos, significa ver neles novos sujeitos históricos, agentes da construção de um mundo sem segregação, sem excludência, sem fronteiras sociais.
Nós que são professores por formação, temos algo a dizer aos governos e aos donos de escolas particulares: Não somos “tios” ou “tias”, nem somos “ sacerdotes do ensino” . Somos profissionais, somos trabalhadores, temos direitos, temos dignidade, exigimos respeito, queremos ser ouvidos.
Nossa opinião deve ter algum valor nas mesas de decisões das grandes políticas sobre a educação e a sociedade, e nas políticas do cotidiano escolar, enfim.
Nossa prática é marcada por avanços e recuos, coragens e medos, ânimos e cansaços, fluxos e refluxos, mas a própria história das sociedades humanas é assim.
Os vencedores nunca foram sempre vencedores, e não o serão por muito tempo. Os que agora perdem, já venceram, e poderão vencer de novo. É a marcha da história, são os processos sociais. Nenhuma saída é individual ou permanente.
Todas os grandes movimentos que moveram, e movem, a história são frutos de processos coletivos.E tantas lições a história nos ensina.
Os saberes são construidos nas relações sociais. Da interação entre os homens, e as mulheres, nascem as grandes respostas aos desafios dos tempos em que se vive.
Educar, assim, é ser inquietamente paciente, perseverantemente vigilante.
Ouvir. Ouvir. Ouvir. Ouvir bastante.
Ouvir é um ato educativo. Falar, mas sempre atento ao ato de ouvir.
Teorizar sobre a prática.
Praticar o que se teoriza.
É avaliar sempre o que se pratica e o que se teoriza. Caminham juntas, inseparáveis, indispensáveis.
Isso práxis.
Educação-experimento-troca-prática-avaliação. Prática que se aprende. Aprendizado que pratica uma teoria que liberta.
Práxis formadora, inconformadora, criadora, transformadora.
Todos podem.
Todos sabem. Todos fazem.
Mundo da razão, razão do mundo.
Ser educador hoje, mais que professor, é usar o texto para entender e mudar o contexto. Agir no contexto e construir um outro texto.
Este é um manifesto de luta. Lutamos contra a barbárie, sonhamos um mundo farto de flores, sorrisos, sonhos e pão, num barco perfumado onde risos de crianças vêm nos acordar para um novo dia que nasce.

HELDER MOLINA
Historiador, Mestre em Educação
Professor de História, Pesquisa e Prática em Educação e Educação Profissional

Um comentário:

Tainã e Janyne disse...

Professor, gostaria de saber se existe um sindicato de Pedagogos (âmbito municipal ou estadual ou federal), caso não exista, como podemos nos organizar para criar um! Nossa categoria, Pedagogos, nem um piso salarial temos! Estamos indignadas!

Att,
Tainã Guimarães e Janyne Barbosa
taina_guimaraes@hotmail.com
jany462@hotmail.com